Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitava o Haiti, esta semana, um grupo de 76 haitianos (dos quais 28 são crianças) chegou à fronteira da Bolívia com o Brasil, à espera de autorização para entrar em território brasileiro. Todos estão desabrigados desde o terremoto de 12 de janeiro e receberam das autoridades bolivianas uma autorização de permanência por 30 dias que expira neste sábado (27). Se não conseguirem deixar o país até lá, podem tornar-se imigrantes ilegais na Bolívia.
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O pedido de visto dos haitianos foi feito esta semana ao consulado geral do Brasil em Santa Cruz de la Sierra, onde o grupo estava abrigado até o último fim de semana. No entanto, segundo o vice-cônsul brasileiro na cidade, Roberto Vecchio, a representação diplomática não tem autonomia para conceder os vistos sem autorização prévia de Brasília.
“Consultamos o Ministério das Relações Exteriores e estamos aguardando instruções”, disse Vecchio ao Opera Mundi.
A assessoria de imprensa do Itamaraty informou que o setor de imigração do ministério já recebeu a solicitação e o caso está sendo tratado de acordo com os procedimentos e prazos normais, “sem nenhuma extraordinariedade”. De acordo com o órgão, os pedidos de visto são analisados individualmente e, por isso, não há nenhuma previsão de resposta para os haitianos.
No entanto, a diplomacia brasileira na Bolívia afirma ter dado prioridade ao caso e pedido rapidez na análise do processo, embora reconheça que o problema é delicado. “É evidente que o pedido foi tratado em caráter urgente, mas esta é uma situação que não afeta somente a Bolívia. É também uma questão política”, disse Vecchio. “Há pessoas na mesma situação em várias partes, não só na Bolívia, e outros grupos de haitianos estão pleiteando o mesmo”.
O Haiti é um dos países cujos cidadãos precisam de visto para entrar no Brasil, e, de acordo com os diplomatas, cada solicitação precisa ser encaminhada ao Itamaraty para análise da documentação. O consulado informou que as 76 requisições de visto foram entregues ao mesmo tempo por um representante do grupo. Segundo Roberto Vecchio, o procedimento seria o mesmo caso fosse apenas um pedido, e não dezenas.
Longa jornada
Segundo a agência de notícias espanhola Efe, os desabrigados fazem parte de um grupo ainda maior, com 88 haitianos, que teria chegado à Bolívia vindo do Peru no dia 27 de janeiro. Em seguida, as autoridades de imigração bolivianas concederam a todos um visto de turismo com validade de 30 dias, não prorrogável. No começo de fevereiro, eles teriam tentado ir para a Argentina, mas tiveram sua entrada negada pelas autoridades de Buenos Aires.
O governo boliviano alega não ter informações sobre o paradeiro dos outros 12 haitianos.
De acordo com o jornal boliviano El Deber, os haitianos estavam alojados em uma pensão de Santa Cruz, mas saíram no último fim de semana. A dona do estabelecimento, Asae Yamashiro, citada pelo jornal, contou que eles teriam partido rumo a Puerto Suárez, na fronteira com Corumbá (MS).
O juizado de menores da província vinha monitorando a situação das crianças e adolescentes do grupo e, segundo o jornal, foi “pego de surpresa” com a saída dos desabrigados da pensão. A maioria dos menores não é filha dos adultos que os acompanham, e a documentação deles está sendo verificada pela Justiça boliviana e pela Interpol, que investiga casos de sequestro de crianças haitianas após o terremoto.
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