O último discurso do presidente Bashar al Assad sobre o conflito sírio foi ainda mais sectário e unilateral do que seus pronunciamentos anteriores, afirmou o Enviado Especial da ONU e da Liga Árabe para o país, Lakhdar Brahimi.
Em entrevista divulgada nesta quarta-feira (09/01), o diplomata argelino endureceu as críticas ao posicionamento do presidente, afirmando que houve retrocesso no processo de paz. Para ele, concessões reformistas do governo não podem mais resolver a crise no país que clama por verdadeiras transformações.
Reprodução/BBC
O Enviado Especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Lakhdar Brahimi, fez críticas duras ao presidente Assad
“As pessoas querem ter o seu próprio governo, querem tomar controle de seu futuro”, disse ele à emissora britânica BBC. “Na Síria, as pessoas estão dizendo que 40 anos é muito tempo para a família Assad estar no poder”.
O diplomata contou que sabia dos planos do presidente sírio de anunciar uma nova proposta de paz. Duas semanas antes de seu discurso, Assad havia se encontrado com Brahimi e lhe disse que “estava pensando em tomar uma iniciativa” em relação ao conflito.
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“Eu lhe disse para ter certeza de que essa iniciativa fosse diferente das anteriores, que não funcionaram”, afirmou o enviado. No entanto, em sua avaliação, o plano apresentado por Assad foi uma repetição de pronunciamentos anteriores e não uma mudança da política de Damasco.
“Eu acho que o presidente Assad deve responder às aspirações do povo sírio ao invés de resistir”, opinou o diplomata que insistiu na negociação entre as partes. “Os sírios têm que se falar para conseguirem resolver o conflito”, acrescentou.
Novo plano de paz?
Brahimi vai se reunir com representantes de Moscou e da Casa Branca nesta sexta-feira (11/01) para continuar com as discussões sobre uma possível resolução da Síria, informou a agência russa Interfax.
Agência Efe
Enquanto negociações se arrastam, a crise humanitária se agrava na Síria, onde mais de 600 mil já fugiram
No mês passado, o diplomata organizou três encontros com as autoridades russas e norte-americanas antes de ter viajado à Síria para se reunir com membros do governo e da oposição. Como resultado dessas negociações, o enviado anunciou que iria apresentar, em breve, à comunidade internacional uma nova proposta de solução da crise no país.
Em entrevista coletiva no dia 30 de dezembro, o enviado explicou que a nova iniciativa “contém bases válidas para o lançamento de um processo de paz” e inclui um cessar-fogo, a formação de um governo “com todos os poderes” e a convocação de eleições para escolher o sucessor de Bashar al Assad e um sistema parlamentar.
Impasse “quase impossível” de ser resolvido
No entanto, o recente pronunciamento de Assad – o primeiro em cinco meses – sinaliza que um acordo de paz entre o governo e os opositores pode estar distante. Neste domingo (06/01), o presidente reiterou que sua missão atual é “defender a Síria de seus inimigos” e rejeitou negociar com “terroristas”, como define os grupos rebeldes.
Enquanto os apoiadores de Assad classificam os rebeldes como “traidores” e se recusam a admitir a saída do presidente, os opositores afirmam que o regime matou muitas pessoas para poder fazer parte de qualquer acordo.
Crise humanitária
Com a intensificação da luta e a falta de um acordo de paz, a crise humanitária se agravou ao redor de todo o território sírio. O número de deslocados internos chegou a 2 milhões e, neste mês de janeiro, a ACNUR registrou 600 mil refugiados da Síria.
Além disso, a ONU afirmou nesta terça-feira (08/01) que não consegue providenciar alimentação para cerca de 1 milhão de pessoas famintas. A organização estima que 4 milhões de pessoas precisam de assistência humanitária urgente.
O conflito completou 21 meses e de acordo com estimativas da ONU, já deixou ao menos 60 mil mortos.