Os eleitores egípcios votam neste sábado (22/12) a favor ou contra uma nova proposta constitucional, que foi responsável por dividir os diferentes grupos e criar um cenário de instabilidade política durante o último mês no país.
Esta é a segunda parte da consulta popular que foi dividida pela falta de juízes disponíveis a supervisionar o pleito uma vez que muitos permanecem em greve pela discordância com a proposta, classificada pela principal associação da magistratura no Egito como um “ataque à Justiça”.
Agência Efe (18/12)
Manifestantes participam de protesto contra o presidente Mohamed Mursi e a proposta constitucional no Cairo
O resultado desta última fase do referendo vai determinar se o rascunho pode se tornar ou não a nova Constituição. Pesquisas de boca de urna sobre a votação do último sábado (15/12) e indicam que a maioria dos eleitores (56,5%) aprovou a proposta e primeiro turno.
Caso os 51 milhões de eleitores escolherem pelo “não”, uma eleição será convocada para a formação de uma nova Assembleia Constituinte que deverá redigir outro texto que, novamente, deverá passar pelo crivo popular. Por outro lado, se a proposta for aceita pela maioria, a população deverá ir também às urnas para eleger o Parlamento.
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O referendo deste sábado (22/12) está acontecendo em 17 das 27 províncias do país com 25 milhões de eleitores elegíveis. Por conta das extensas filas, as autoridades estenderam em 4 horas o horário de fechamento dos locais de votação.
Cerca de 250 mil oficiais do governo, incluindo membros das Forças Armadas, estão fazendo rondas nas cidades egípcias para conter possíveis protestos. Os soldados ganharam o poder temporário de prender ativistas e reprimir manifestações por conta de um decreto presidencial, que reaviva memórias dos tempos da ditadura quando os militares saiam às ruas e detinham milhares de opositores.
Ditadura islâmica?
O polêmico texto recebe o apoio do presidente Mohamed Mursi e da Irmandade Muçulmana, mas foi muito criticado por um conjunto heterogêneo de grupos. Os oposicionistas temem a imposição de preceitos muçulmanos e a criação de uma nova ditadura no país, que passa por uma transição democrática desde a queda do regime de Hosni Mubarak por protestos populares.
Agência Efe (21/12)
Polícia egípcia reprime manifestantes que participavam de protesto contra o presidente Mohamed Mursi em Alexandria
A nova Carta Magna foi formulada e aprovada apenas pelos 234 membros islâmicos da Assembleia Constituinte durante uma sessão boicotada por representantes de outros setores.
A crise política teve início no dia 22 de novembro, quando o presidente aprovou um decreto lhe garantindo poderes extraordinários, imunidade em relação ao Legislativo e Judiciário e a impossibilidade de dissolver a atual Assembleia Constituinte de maioria islâmica. A medida, entendida por muitos como a volta à era ditatorial, também impedia o cancelamento ou suspensão de decisões de Mursi, mas foi cancelada pelo próprio presidente por conta dos intensos protestos.
Desde então, milhares de egípcios favoráveis e contra o presidente tomaram conta das ruas do país. Pelo menos 11 pessoas ficaram feridas nesta sexta-feira (21/11) em confrontos em Alexandria. Nas últimas três semanas, ao mesno 10 pessoas morreram e mais de mil ficaram feridas nos protestos.
Irregularidades
Organizações de direitos humanos e grupos opositores denunciaram neste sábado (22/12) que a consulta popular foi marcada por irregularidades, informou a agência Reuters. De acordo com os relatos, alguns locais de votação abriram horas depois do previsto, islâmicos continuaram a fazer campanha pelo “sim” e a lista de eleitores contava com a presença de pessoas não elegíveis, incluindo o nome de homem morto.
No primeiro turno do referendo, a oposição também denunciou uma série de abusos. Segundo eles, o processo de votação do último sábado (15/12) não foi devidamente supervisionado e deve ser repetido.
O comitê responsável por supervisionar a votação, no entanto, afirmou que suas investigações não apontam para irregularidades na primeira fase da consulta popular.
De volta à Primavera Árabe?
Analistas estimam que o término da votação e o anúncio do resultado não devem acabar com a crise política no Egito com a continuidade dos protestos.