O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, afirmou em carta ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que não aceitará sua restituição caso esta seja parte de uma manobra para encobrir o golpe de Estado de 28 de junho. Zelaya também questionou a posição dos funcionários norte-americanos que visitaram o país nos últimos dias, que se mostraram dispostos a validar as eleições de 29 de novembro como saída para a crise, diferentemente da OEA (Organização dos Estados Americanos).
“Ficou claro para mim e para o mundo a posição do governo Obama de condenar o golpe de Estado, desconhecer suas autoridades e exigir o retorno do estado de direito com a restituição do presidente eleito pelo povo”, diz Zelaya na carta enviada no sábado (14).
Leia na íntegra a carta
Nela, o presidente deposto refere-se ao descumprimento do acordo de Tegucigalpa-San José por parte da ditadura hondurenha, defendido pelos próprios EUA, e condena o fato de este país, ainda assim, legitimar as eleições como saída para a crise “sem se importar com as condições de sua realização”.
Zelaya lembra que não se pode promover eleições sob um regime golpista que reprime a população – 3.500 pessoas foram detidas, há mais de 600 feridas e espancadas nos hospitais, 21 assassinatos e múltiplos casos de tortura – e mantém o presidente legítimo sitiado na embaixada do Brasil.
Efrain Salgado/EFE (15/11/2009)
Vários seguidores de Zelaya se reúnem na sede do Sindicato de Trabalhadores da Indústria
de Bebidas e Similares, em Tegucigalpa
Por isso, reitera que desconhece o processo eleitoral e promete impugná-lo, pois se trata de uma “vergonha histórica para Honduras e uma infâmia para os povos democráticos da América”. Concluindo, Zelaya diz a Obama que na Cúpula dos Países do Continente Americano, realizada em Trinidad e Tobago no início do ano, o norte-americano pediu que as nações parassem de acusar seu governo pelo que fez no passado e olhassem para o futuro e acrescenta que “o futuro que hoje nos mostram ao alterar sua posição no caso de Honduras, favorecendo assim a intervenção abusiva das castas militares na vida cívica de nosso Estado, é uma nova guerra contra os processos de reformas sociais e democráticas tão necessários em Honduras.”
Instabilidade
Enquanto isso, os golpistas seguem adiante com os preparativos para as eleições. Para o analista político Gustavo Irías, estas serão as “eleições a sangue e fogo. O país inteiro será patrulhado por militares e policiais. Além disso, chegaremos no dia com a guerra psicológica no auge”.
E esta guerra já começou. Nas últimas semanas houve um aumento da violência e dos atentados sem autoria assumida. Duas torres de energia foram derrubadas, vários políticos foram assassinados em circunstâncias estranhas e pequenas explosões foram registradas em centros comerciais. A última ocorreu na madrugada de sexta-feira e, embora não tenha causado nenhum dano, transformou-se em um show midiático.
Em meio à confusão de versões, a única certeza é a de que, por volta da meia-noite de quinta-feira, os vizinhos escutaram o barulho de um avião e um forte estrondo. Do resto do roteiro encarregaram-se os meios locais e as autoridades golpistas que, ao longo de toda a sexta-feira, despejaram declarações contraditórias.
Três dias depois, porém, o local do impacto ainda não foi localizado e nenhum dano foi apontado. Apenas um morador encontrou restos de uma granada antitanques em um terreno baldio nos arredores do depósito do Tribunal Supremo Eleitoral, onde são guardadas as cédulas eleitorais. Isto serviu para que a ditadura redobrasse os efetivos das forças armadas que vigiarão a eleição e atacasse a Frente de Resistência. O comandante do Exército, Miguel Ángel García Padgett, declarou que estas ações são parte de “uma estratégia sempre utilizada pelos que professam uma ideologia de destruição e morte, como todos os comunistas infiltrados em Honduras”.
A acusação é negada com veemência pela Frente. Seu coordenador, Juan Barahona, reiterou que o grupo não tem nenhuma ligação com os incidentes, pois sua luta é pacífica e, além disso, “o povo não tem capacidade para fazer essas coisas. Aqui, os únicos que têm essa capacidade são a polícia e as forças armadas”.
Seja como for, o medo chegou às ruas e muitos asseguram que “neste dia haverá vergueo” – “desordem” em catracho, como o hondurenho é chamado popularmente.
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