O papa Francisco se reuniu nesta terça-feira (28/11) com a Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, em Mianmar, e ouviu elogios da “líder de fato” do país por sua ajuda nas questões de tolerância e de respeito aos direitos humanos, mas cobrou respeito a todas as etnias e religiões do país.
Suu Kyi tem sido duramente criticada por conta da sua gestão na crise com os rohingyas. De acordo com dados das Nações Unidas, mais de 600 mil pessoas da minoria étnica e religiosa fugiram para o vizinho Bangladesh desde agosto deste ano. No ano passado, cerca de 300 mil saíram do país.
O papa, assim como havia feito em uma reunião inter-religiosa horas antes, pediu “tolerância, unidade e perdão” para “curar as feridas e construir um novo país”. “O árduo processo de construção da paz e da reconciliação nacional pode avançar apenas através do empenho pela justiça e o respeito aos direitos humanos”, disse o líder religioso ao afirmar que fazer justiça “é a vontade de reconhecer a qualquer um os seus direitos”.
Segundo o líder da Igreja Católica, “o futuro de Mianmar deve ser a paz, uma paz fundada no direito da dignidade e dos direitos de cada membro da sociedade, no respeito para cada grupo étnico e de sua identidade, sobre o respeito do estado de direito e da ordem democrática que permitam que qualquer indivíduo e qualquer grupo de oferecer sua legítima contribuição para o bem comum”.
Conforme foi orientado, o pontífice não usou o termo “rohingya” em sua fala. Apesar da minoria muçulmana que é perseguida no país ser conhecida assim mundialmente, o governo de Mianmar usa o termo “bengalis de Rakhine”.
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FAO/Giuseppe Carotenuto
Papa cobrou Mianmar por respeito aos direitos humanos
Antes dos discursos dos dois líderes, Papa e Aung San Suu Kyi se reuniram a portas fechadas por 23 minutos. Entre os temas abordados, a crise dos rohingyas foi uma das pautas, bem como a reconstrução do governo após décadas de ditadura militar.
Rohingyas
Em agosto, uma ação do grupo “Exército Arakan para a Salvação dos Rohingyas” matou cerca de 70 pessoas, incluindo diversos policiais. Como resposta, o Exército começou uma perseguição sistemática em Rakhine, com assassinatos sumários, estupros de mulheres e crianças e a queima das casas dos membros da etnia.
A ONU, e até mesmo os Estados Unidos, acusaram o país de estar fazendo “uma limpeza étnica clássica” e condenaram a atuação de Aung San Suu Kyi, que nada fez pela população. Após meses de fuga, ela chegou a visitar Rakhine, no início de novembro, mas a etnia já está reduzida a poucos milhares de pessoas.
Na semana passada, antes da visita do Papa, Mianmar fechou um acordo com Bangladesh para permitir o retorno de quem fugiu, mas as ONGs temem que não exista condições de segurança para toda a população.
Esse é o segundo encontro entre Francisco e Suu Kyi. No dia 4 de maio, a representante do país asiático foi para o Vaticano em uma reunião que selou a retomada das relações diplomáticas entre Mianmar e a Santa Sé.
(*) Com Ansa