Há três meses, todas as sextas-feiras, Tegucigalpa é tomada por milhares de pessoas, em sua maioria jovens, portando tochas. Eles protestam contra o governo de Honduras após a descoberta de um desvio de US$ 300 milhões do Instituto de Previdência Social e pedem a renúncia de diversos integrantes da administração pública, inclusive do presidente Juan Orlando Hernández. Após iniciar um processo de diálogos no país, o enviado da OEA (Organização dos Estados Americanos) John Biehl afirmou que os cidadãos “não confiam” nos governantes.
O diplomata chileno, representante especial da OEA, viajou neste sábado (15/08) de Tegucigalpa para Nova York e Washington, onde deverá informar a organização e as Nações Unidas a respeito da situação hondurenha. Ele voltará ao país centro-americano em oito dias para retomar o diálogo com líderes políticos e sociedade civil.
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Marchas das tochas tomam capital do país todas as sextas-feiras
“Há um problema de credibilidade muito grande que se nota entre governantes e governados e isso sempre faz com que seja mais difícil o caminho da democracia, essa diferença tão grande tem que ser cortada rapidamente para que prevaleçam os valores democráticos que os hondurenhos querem conservar”, afirmou Biehl, em declarações aos jornalistas ao deixar o país.
Ele ressaltou que “se nota um cansaço, para além das pessoas com as quais conversamos; quando se conversa com taxistas ou pessoas nas ruas ou amigos, há uma espécie de desengano diante dessa notícia quase sucessiva de gente que aparece subitamente com muitíssimo dinheiro”.
Diálogo
A mediação internacional no diálogo hondurenho foi solicitada, em junho, pelo presidente Hernández — membro do Partido Nacional, de direita — com o objetivo de acalmar os milhares de jovens “indignados” que exigem a renúncia do mandatário e pedem punição para os políticos corruptos.
Pela primeira vez no país, políticos, empresários, acadêmicos, camponeses, manifestantes e outros setores da sociedade civil e o governo foram chamados a se sentar para discutir em conjunto os problemas do país. Além do combate à corrupção, a necessidade de uma reforma eleitoral e institucional do Estado também estiveram sobre a mesa.
O ex-presidente hondurenho, que deixou o cargo mediante um golpe de Estado em 2009, Manuel Zelaya disse, em sua conta no Twitter, no entanto, que não participará do diálogo porque o governo “se nega a cumprir as demandas da oposição e indignados”. Eles pedem a criação de uma comissão internacional contra a impunidade no país.
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Ex-presidente Manuel Zelaya participa de manifestação realizada no final de julho
Biehl, por sua vez, declarou que se o governo decidir, durante o diálogo que a melhor maneira de resolver as coisas é por meio de uma comissão internacional, não vai interferir.
Protestos
Os manifestantes hondurenhos se auto designam como “oposição indignada”. Até o momento, foram realizadas 12 grandes mobilizações na capital Tegucigalpa e diariamente são organizadas manifestações em cidades no interior do país.
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A onda de protesto teve início após a descoberta do desvio de US$ 300 milhões do Instituto de Previdência Social, um dos maiores escândalos de corrupção do país.
O caso envolve empresários, políticos e o próprio presidente que reconheceu ter recebido, em 2013, parte do dinheiro desviado como doação de campanha, mas alegou não ter tido conhecimento, à época, deste fato.
De acordo com o Ministério Público hondurenho, 91% dos crimes cometidos no país não são julgados. Além da corrupção, a violência é outro fator de descontentamento da população. A taxa de homicídios no país é de 66 para cada 100 mil habitantes, quando a média mundial é de 6,2 mortes.