Em meio ao ambiente caótico e de lentidão no trânsito desta terça-feira (23/06) na travessia do Canal da Mancha — que liga o norte da França ao Reino Unido —, por conta de uma greve de trabalhadores franceses, centenas de imigrantes, que vivem nos arredores da cidade portuária francesa de Calais, tentaram entrar em caminhões parados no engarrafamento para chegar à Inglaterra.
A estimativa é de que 3 mil homens, mulheres e crianças sem documentação estejam em Calais, vivendo em situações precárias. Eles fogem de perseguições e de guerras no Oriente Médio e na África Oriental e aguardam a oportunidade de cruzar o canal para chegar a terras britânicas.
Reprodução/ Twitter
Imigrantes aguardam à beira da rodovia oportunidade para embarcar rumo à Inglaterra
Na semana passada, de acordo com o jornal inglês Guardian, agentes humanitários alertaram que as condições no campo onde estão os imigrantes são péssimas, com falta de comida e abrigo, e disseram que os imigrantes estão ficando desesperados e decididos a assumir riscos cada vez maiores para entrar na Grã-Bretanha.
De acordo com a Eurostar, empresa que controla o Eurotúnel — via submarina que atravessa o Canal da Mancha ligando França e Reino Unido —, o número de imigrantes na região de Calais é a maior já vista. Somente neste ano, 19 mil pessoas tentaram cruzar o canal, sem sucesso. O número é mais do que o dobro do que foi verificado no último ano.
A prefeita de Calais afirmou, na última segunda (22/06), que o Reino Unido deve se somar à zona de Schengen — convenção europeia de abertura das fronteiras — ou deixar totalmente a Europa, como reportou a RT. “Consideramos isso um incidente diplomático com o governo britânico. Nós estamos sendo forçados a enfrentar situações que são insuportáveis”, afirmou a uma rádio francesa.
O vice-prefeito de Calais, Philippe Mignonet, disse à BBC que o governo britânico é culpado pelo número de imigrantes que tentam cruzar o canal. “Nós vamos bloquear o porto. Simples assim. Nós vamos nos organizar para fechar o túnel se nada for feito”, ameaçou.
Risco
Imagens aéreas mostram um grande número de pessoas reunidas ao longo da estrada, algumas perseguindo e embarcando nos caminhões.
O gerente internacional da FTA (Associação de Transporte de Mercadorias na sigla em inglês), Donald Armour, disse à BBC que a situação é “definitivamente a pior que já existiu”. E ressaltou que “há uma grande briga entre os imigrantes que querem estar na melhor parte da estrada para pegar os caminhões. Não tivemos uma fatalidade, mas isso não é bom”.
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Devido à situação, o governo britânico emitiu um comunicado no qual recomenda que caminhoneiros se certifiquem de que as carrocerias de seus veículos estão devidamente trancadas. O texto oficial anuncia também que a patrulha local foi reforçada para evitar a entrada dessas pessoas.
Greve
A greve — prevista para acabar às 20h locais (às 16h, no horário de Brasília) — gerou uma longa fila na estrada que liga ao porto de Calais. Por essa razão, os motoristas são aconselhados a não parar nos cem quilômetros próximos do porto.
Mais de 400 trabalhadores do MyFerryLink, balsa que faz a ligação entre as cidades de Dover, na Inglaterra e Calais, bloquearam o porto francês em um protesto contra um possível corte de empregos. O porto de Calais é conhecido por ser um dos maiores da França e ponto comum para imigrantes que tentam chegar ao Reino Unido.
A ação é contra a reestruturação interna na empresa MyFerryLink, processo que poderá gerar desemprego. Assim, cerca de cem funcionários bloquearam a rota e fizeram barricadas ateando fogo em pneus.