Atualizada às 14h45
O ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica cobrou neste sábado (29/08), em palestra em São Bernardo do Campo (ABC paulista) ao lado do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, “paciência e militância” àqueles que se aliam a formas não conservadoras de pensamento na sociedade. Segundo ele, isso é necesário para que o desenvolvimento evite comportamentos individuais dos cidadãos.
Mujica e Lula participaram de um seminário internacional promovido pela prefeitura da cidade – que é reduto de criação do Partido dos Trabalhadores (PT), nos anos 1980, e berço do movimento grevista que alçou Lula à política nacional, na década de 1970.
Janaína Garcia/Opera Mundi
Lula e Mujica participaram de evento neste sábado em São Bernardo do Campo
A uma plateia de cerca de 2.000 pessoas, entre representantes de movimentos sociais e sindicais, estudantes e políticos, Mujica defendeu que a existência de partidos políticos é condição necessária para a democracia de um país.
“Precisamos entender que um cargo importante de administrador [público] é um voto de confiança das pessoas; temos que nos acostumar com a participação e independência delas, bem como o que elas pensam de você – se não, não podemos conviver”, sugeriu.
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“Não há democracia sem partidos, e eles são a vontade coletiva de grupos humanos”, disse o ex-presidente uruguaio, que condicionou a posição ao “sonho de construir coisas melhores”. “Não há homens imprescindíveis, há causas imprescindíveis”, definiu, ele que é também ex-guerrilheiro de seu país: ficou preso por 14 anos, sete deles, isolado. “Os partidos brigam pelo amanhã, pela utopia, e os partidos também adoecem, assim como nossas sociedades. Assim são os seres humanos.”
A defesa do uruguaio pelo fortalecimento democrático também via partidos bate de frente com setores da direita que, nos últimos meses, desde março, têm ido às ruas pedir, se não o fim do Partido dos Trabalhadores, o impeachment da presidente Dilma Rousseff, reeleita em outubro passado com uma margem apertada de votos.
Janaína Garcia/Opera Mundi
Ex-presidente brasileiro falou durante mais de uma hora em evento em São Bernardo
“Mais do que nunca, precisamos de partidos progressistas e de entender que temos que nos empenhar pelo compartilhamento – e isso tem que ser mão a mão, boca a boca, e não com os grandes meios, porque a imprensa responde a outra maneira de ver o mundo”, defendeu.
Lula
Lula avaliou que estava “quieto”, na condição de ex-presidente da República, mas que decidiu reagir quando percebeu que, “de vez em quando, a direita reacionária desse país resolve dizer que Lula já era, está morto”. Bastante aplaudido, o petista prometeu sair a campo para tentar minimizar, a Dilma, as críticas de opositores ao governo.
“Como eu tenho as costas largas, vou ver se eles [críticos] dão um pouco de sossego para a nossa querida Dilma e começam a se incomodar comigo também. Os adversários não me deixam em paz”, ironizou. “Você só consegue matar um pássaro se ele ficar no galho olhando pra você; pulando ou voando, é difícil. Eu voltei a voar outra vez”.