Agência Efe
Um dos carros incendiados no confronto entre jovens e a polícia francesa na madrugada desta terça-feira em Amiens, no norte da França
A conflituosa relação entre a juventude residente nas periferias das grandes cidades francesas e a autoridades parecem não ter mudado significativamente desde 2005, ocasião em que uma série de revoltas eclodiu em dezenas de bairros de baixa renda no país. Nesta terça-feira (14/08), um confronto da mesma natureza voltou a ser registrado – e a resposta da polícia e do governo parece não ter mudado de padrão.
Uma nova onda de revolta teve início em Amiens, cidade localizada no norte do país, quando dezenas de jovens entraram em um confronto violento com a tropa de choque durante a madrugada. Horas depois dos confrontos, o presidente francês, François Hollande, em um evento já programado em homenagem à polícia, prometeu aumentar o efetivo de oficiais nos bairros periféricos das grandes cidades “para combater a violência e a delinquência”, indicando que manterá a mesma política de repressão de seu antecessor, o conservador Nicolas Sarkozy.
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Os tumultos, que tiveram início na noite de segunda-feira (13/08), apenas foram controlados às 4 horas da manhã com a chegada de reforços policiais de áreas vizinhas. Carros e edifícios públicos foram incendiados pelos manifestantes, que também dispararam balas de chumbo contra 150 oficiais da tropa de choque mobilizados. Estes responderam com bombas de gás lacrimogêneo e tiros de balas de borracha.
A prefeitura de Amiens informou nesta manhã que 16 policiais ficaram feridos e que ninguém foi preso. “O embate foi muito, muito violento”, afirmou o prefeito da cidade, Gilles Dumailly, segundo o jornal britânico The Telegraph. “Ocorrem incidentes regulares aqui, mas há anos não víamos uma noite tão violenta quanto esta, com tantos danos”, afirmou o chefe municipal. De acordo com o diário The Guardian, estima-se que os danos somem prejuízo de aproximadamente 1 milhão de euros.
Agência Efe
Policiais da tropa de choque durante confronto contra jovens na zona norte de Amiens nesta madrugada; os oficiais jogaram bombas de gás lacrimogêneo contra os revoltosos
A violência teve início durante o final de semana quando moradores se reuníram para protestar contra uma abordagem policial a um residente da região, informou o jornal norte-americano The Washington Post. Segundo essa versão, a revolta desta madrugada teve inicio quando a tropa de choque chegou para dispersar um grupo que ainda manifestava.
Apesar da causa imediata para o início dos confrontos desta madrugada não estar clara, Dumailly explicou em rede televisiva nacional que as tensões entre os residentes dos conjuntos habitacionais e a polícia estavam crescendo nos últimos meses. Moradores de uma zona de crescente desemprego, sobretudo entre jovens, estes franceses foram descritos pelo próprio prefeito como ”pessoas que enfrentam dificuldades”.
Resposta do governo
Os sinais de indignação e revolta da juventude contra as autoridades francesas não foram suficientes, no entanto, para uma mudança na política do governo em relação às classes mais baixas. Desde 2005 até os dias atuais, a maior parte das respostas dos políticos aos problemas nos bairros periféricos foi aumentar o contingente policial na região a fim de supostamente melhorar a segurança.
Hollande, recém-eleito presidente pelo Partido Socialista, deu sinais de que não pretende mudar a política seguida pelo seu antecessor. “Existe violência, existe delinquência, existe criminalidade, e isto precisa ser prevenido e dissuadido”, disse ele em cerimônia em homenagem à polícia francesa nesta terça-feira (14/08). O presidente anunciou plano de investir na polícia e deslocar efetivo de oficiais para as áreas mais violentas do país.
“Nossa prioridade é a segurança, o que significa que, no próximo orçamento, iremos incluir mais recursos para nossas forças policiais”, acrescentou Hollande de acordo com o The Guardian. A zona norte de Amiens, onde a revolta aconteceu, foi classificada pelo governo francês há duas semanas entre as 15 mais pobres e mais inseguras do país.