Em uma reunião extraordinária do Parlamento da Liga Árabe no Cairo, convocada para expressar solidariedade à Palestina e condenar os ataques de Israel contra Gaza, nesta quarta-feira (19/05), o secretário-geral da liga, Ahmed Aboul Gheit, afirmou que o Estado israelense pratica “limpeza étnica” contra o povo palestino.
“A verdade está se tornando cristalina agora com toda sua feiura e hediondez: estamos diante de um povo colonizado que vive sob um estado de apartheid e um governo de ocupação que pratica sistematicamente a limpeza étnica”, disse Gheit.
De acordo com a emissora Al Jazeera, outros que estavam presentes também criticaram a atuação de Israel. O presidente do Parlamento Árabe, Adel Al-Asoumi, acusou Israel de “crimes de guerra e crimes cometidos contra a humanidade”.
Ainda nesta quarta, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, acusou Israel de cometer terrorismo de estado e crimes de guerra contra a população em Gaza. A mensagem foi emitida por comunicado televisionado.
Biden diz a Netanyahu que espera cessar-fogo
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, telefonou novamente nesta quarta-feira (19/05) para o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e cobrou uma “significativa redução de ataques hoje em direção a um cessar-fogo” na Faixa de Gaza, informou a Casa Branca.
“Os dois tiveram uma discussão detalhada sobre o estado dos eventos em Gaza, o progresso de Israel em degradar as capacidades do Hamas e outros elementos terroristas e os esforços diplomáticos em andamento por governos regionais e dos Estados Unidos”, afirmou Karine Jean-Pierre, vice-secretária de imprensa da Casa Branca.
Apesar dos apelos internacionais por um cessar-fogo, Netanyahu afirmou mais cedo nesta quarta, em reunião com mais de 70 embaixadores estrangeiros e representantes diplomáticos, que Israel estaria buscando uma “dissuasão vigorosa” contra os governantes do Hamas em Gaza, mas que não descarta novos ataques. Para os presentes, disse ainda que “ou você pode conquistá-los, e essa é sempre uma possibilidade em aberto, ou pode dissuadi-los”.
Afirmou ainda que Israel espera restaurar a quietude “rapidamente” e está fazendo tudo o que pode para evitar vítimas civis.
Arab League
‘É dever entregar a voz palestina ao mundo neste raro momento em que os ouvidos ouvem a voz da verdade’, diz Ahmed Aboul Gheit
Pelo menos 219 palestinos, incluindo 63 crianças, foram mortos em Gaza desde o último episódio de violência em 10 de maio. Cerca de 1.500 palestinos foram feridos. Doze pessoas morreram em Israel, incluindo duas crianças, enquanto pelo menos 300 israelenses ficaram feridos.
Autoridades de saúde também estão preocupadas com a contínua crise do coronavírus no território, já que o único laboratório de teste de covid-19 em Gaza está agora inoperante devido a danos causados por um ataque aéreo israelense que atingiu um prédio próximo, segundo informações da jornalista do Al Jazeera Youmna al-Sayed.
A Organização das Nações Unidas (ONU) também informou que quase 450 prédios foram destruídos ou danificados na região, incluindo seis hospitais, nove postos de saúde e o prédio que abrigava os veículos de notícias Al Jazeera e Associated Press.
Início das hostilidades de Israel
A região de Jerusalém Oriental vem sendo palco de uma repressão de forças israelenses que se intensificou nos dias 8 e 9 de maio, depois que a polícia lançou balas de borracha e granadas de choque contra a mesquita de Al-Aqsa. Em resposta, o partido político palestino Hamas lançou foguetes perto de Jerusalém, e em 10 de maio, começaram os primeiros ataques aéreos de Israel.
Um dos pontos centrais da escalada de tensão foi a decisão de um tribunal israelense de despejar 28 famílias palestinas do bairro Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, para dar lugar a colonos israelenses. Revoltados, os palestinos foram às ruas para protestar.
Outro ponto que despertou descontentamento da comunidade palestina que vive na região foi uma marcha convocada por grupos nacionalistas de Israel para celebrar o “Dia de Jerusalém”, data que marca a ocupação de Jerusalém Oriental por forças israelenses.
Os palestinos vivem sob ocupação militar desde a vitória de Israel na Guerra dos Seis Dias, contra Síria, Egito, Jordânia, Líbano e Iraque, em 1967. A violência israelense contra territórios palestinos, no entanto, se inicia com a criação do Estado de Israel, em 1948. Foi nesse ano que, em 15 de maio, ocorreu o “nakba”, palavra em árabe que significa catástrofe. A data remete ao episódio em que parte da população palestina foi expulsa de suas casas e teve que buscar refúgio em outros países.