“Foi uma noite negra para a Europa, na qual os valores retrocederam. Houve pressões enormes contra um país que havia se expressado democraticamente”. Assim, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, definiu a noite de negociações com os líderes do Eurogrupo que resultou na aceitação de novas medidas de austeridade e privatizações no país. Com relação a isso, o premiê, em entrevista à TV pública grega nesta terça-feira (14/07), chamou para si a responsabilidade de ter assinado “um mau acordo”, no qual não crê, e disse ter lutado “até o fim”.
“É um acordo contra os valores da Europa, mas nos dará a oportunidade de sair da crise”, apontou. “A dívida será reestruturada a partir de 2022. Estamos construindo as condições para que os investimentos voltem à Grécia”, acrescentou Tsipras.
Agência Efe
Premiê grego, Alexis Tsipras, disse não acreditar no 'mau acordo' que foi forçado a assinar, mas afirmou ter 'lutado até o fim'
A perspectiva é “sair da crise em 2020”, detalhou o premiê antes de chamar para si a responsabilidade e possíveis erros do processo. “Eu assumo totalmente a responsabilidade pelos erros e por colocar minha assinatura em um documento no qual eu não acredito.”
Ainda assim, negou veementemente a convocação de eleições antecipadas ou uma possível renúncia, como chegou a ser cogitado por setores da política grega, como o ex-ministro da Economia Yanis Varoufakis. “Um primeiro-ministro que vence um referendo não vai fugir de sua responsabilidade de realizar as medidas que são necessárias”, disse Tsipras.
Ele ressaltou ainda que o acordo firmado na madrugada desta segunda-feira (13/07), após 17 horas de negociações, é diferente da proposta que fora apresentada em junho e rechaçada pelo povo grego no referendo realizado no início do mês. “A proposta de junho era apenas para poucos meses. Apesar das reformas duras, (…) agora conseguimos 82 bilhões de euros para três anos e há um compromisso de negociar a dívida ainda em 2015” e ressaltou: “Foi uma negociação difícil, mas eu ganhei em 15 dos 20 pontos”.
Ele reconheceu, no entanto, que se tratam de “medidas muito duras”, mas ressaltou que não está prevista a redução do valor pago aos aposentados ou o salário dos trabalhadores, somente o aumento do imposto sobre o consumo, chamado por ele de “absurdo”, e a reforma das aposentadorias antecipadas.
NULL
NULL
Com relação ao seu partido, Syriza, que ameaça rachar na votação do acordo, que será realizada nesta quarta-feira (15/07), o primeiro-ministro cravou: “Sou primeiro-ministro, não um ditador. Respeito a postura de cada deputado. Cada um votará de acordo com suas responsabilidades”. Ele também eliminou a possibilidade de expulsar os deputados que votarem contra o acordo: “a cultura do Syriza é baseada no diálogo”.
Grexit
Tsipras afirmou ainda que não existia um plano B para a Grécia. “Nos obrigaram a assinar. A única alternativa além disso era sair do euro”. O premiê apontou que “quando os credores consideraram que o ‘sim’ no referendo não iria ganhar, decidiram parar a negociação”, ressalta.
Apesar de ter sido defendida por alguns setores da esquerda, a saída do país do euro, chamada de grexit, e a volta para a moeda nacional dracma era inviável, como justificou o premiê. “As pessoas ricas teriam um futuro melhor na Grécia se adotássemos o dracma, mas prejudicaria os que têm menos. Seria um desastre para as classes média e baixa. Não seria um ideal de esquerda”, apontou.
E destacou que em março, o ministro da Economia da Alemanha, Wolfgang Schäuble, propôs uma saída negociada do euro. “A última frase do rascunho do documento era que se não fosse cumprido o acordo deveríamos sair do euro. Evitamos isso” porque na prática significava que “os credores seriam os mesmos. O memorando seria pior do que agora”. E isso, segundo Tsipras, “levaria o país a uma bancarrota”.
“A Europa não pertence ao Schäuble e eu lutei para demonstrar aos povos da Europa que não é assim”, disse Tsipras. “Agora tenho que garantir que o plano dos conservadores da Europa [a saída da Grécia do euro] não será concretizada” e apontou ainda que não esteve sozinho nas conversações com a Comissão Europeia, tendo recebido o apoio de França, Itália e Chipre.
Bancos
Apontado por especialistas como o único setor beneficiado pelo plano de resgate acordado em 2011, os bancos permanecem no centro da economia grega: “Minha prioridade é alcançar um programa tangível para a estabilidade das nossas instituições financeiras e avançar nos processos. O importante é garantir o crédito que nos permita estabilizar a economia. Depois negociaremos o resto”, afirmou o premiê.
Ele ressaltou ainda que os 25 bilhões de euros para a recapitalização dos bancos serão “mais do que o suficiente”. Mas, com os bancos do país fechados há mais de 15 dias, ainda não há previsão para a normalização das atividades: “depende da finalização do acordo, o que deve ocorrer no final do mês”, argumentou.