Reprodução / SANA (24/12)
O Enviado Especial das Nações Unidas e da Liga Árabe para a Síria, Lakhdar Brahimi, em reunião com presidente Bashar al Assad no palácio presidencial em Damasco
O Enviado Especial das Nações Unidas e da Liga Árabe para a Síria, Lakhdar Brahimi, se reuniu nesta segunda-feira (24/12) com o presidente Bashar al Assad para discutir uma possível solução para o conflito de 21 meses entre o governo e grupos da oposição, que já deixou pelo menos 40 mil mortos.
É a terceira vez que o diplomata argelino viaja a Síria desde que assumiu o cargo em agosto deste ano em substituição de Kofi Annan. Desde sua última visita ao país, em outubro deste ano, as lutas se intensificaram nas principais cidades do país e a crise humanitária se agravou ao redor de todo o território, com aumento do número de deslocados internos e de pessoas sem acesso a alimentação.
“Eu tive a honra de me encontrar com o presidente e, como nas outras vezes, nós trocamos visões sobre os passos a serem tomados no futuro”, afirmou Brahimi a repórteres logo após a reunião no palácio presidencial em Damasco. “Assad expressou sua visão sobre o conflito e eu lhe contei sobre os encontros que tive com líderes da região e de outros locais”.
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O enviado, que preferiu não dar muitos detalhes sobre os avanços do processo de paz, reiterou que a situação na Síria é muito preocupante. “Nós esperamos que todas as partes possam caminhar em direção à solução que o povo sírio está esperando”, acrescentou.
O presidente sírio descreveu o encontro como “amigável e construtivo” e garantiu o compromisso de seu governo em proteger a soberania e independência do país. De acordo com a agência oficial síria, o chanceler sírio, Walid Muallen, o vice-chanceler, Faisal Muqdad, e o conselheiro da Presidência, Buthaina Shaaban, também estiveram presentes na reunião.
Ainda não está claro quais foram as propostas que o diplomata argelino apresentou para as autoridades do regime sírio. Em sua última missão no país, Brahimi promoveu um acordo de cessar-fogo temporário entre as forças do governo e da oposição. A trégua, no entanto, não teve sucesso na prática, sendo rompida diversas vezes por ambas as partes.
Falta de acordo
Em quatro meses de mandato, o diplomata não conseguiu realizar muitos avanços na negociação para a resolução do conflito, descrita por ele mesmo e Annan como “quase impossível”.
Ambas as partes se recusam a aceitar o plano de transição formulado pelos enviados que sugere a criação de um governo de transição composto por membros do governo e de grupos de oposição ao regime.
Enquanto os aliados de Assad classificam os rebeldes como “terroristas” e se recusam a admitir a saída do presidente, os opositores afirmam que o regime matou muitas pessoas para poder fazer parte de qualquer acordo.
Intensificação do conflito
O encontro de Brahimi com membros do regime sírio veio apenas um dia depois do bombardeio de um bairro controlado pelos rebeldes na província de Hama quando aviões do governo dispararam contra uma padaria e deixaram dezenas de civis mortos e centenas de feridos.
A intensificação do conflito fez com que Brahimi, que havia desembarcado diretamente na capital síria nas outras vezes, viajasse de avião até o aeroporto de Beirute, no Líbano, e fosse para Damasco de carro. Nas últimas semanas, batalhas tomaram conta das rodovias de acesso ao aeroporto da capital síria.
Mudanças?
Pela primeira vez desde o início da luta armada, o vice-presidente do país, Faruq al Shaara, admitiu, no último domingo (16/12), que o governo pode não vencer o combate contra a oposição. Segundo ele, nenhum dos dois lados tem condições de vencer a guerra, que já dura 21 meses, enquanto o país caminha “de mal a pior”.
O Irã, principal aliado político de Assad ao lado da Rússia, apresentou um plano de seis passos para colocar fim à violência no país, com a realização de uma nova eleição presidencial. O projeto também pontua esforços para deter o fluxo de armas para a Síria e manter negociações com a participação do governo
Outros pontos incluem a criação de um governo transitório para conduzir o país até as eleições parlamentares e presidenciais, mas não especifica se Assad e os principais integrantes do regime estariam ou não incluídos nesse processo.
Enquanto isso, o Kremlin envia mensagens dúbias sobre o seu apoio ao regime sírio. O vice-chanceler russo, Mikhail Bogdanov, reconheceu no início do mês que os grupos da oposição estão ganhando controle do território do país e podem vencer a guerra contra o presidente Assad. Suas declarações foram negadas, no entanto, pelo Ministério das Relações Exteriores do país.
Os sinais de mudança surgem em um momento de avanço da luta armada das organizações rebeldes no país, que conquistaram controle de território contínuo em Damasco e o apoio formal dos Estados Unidos.