Durante a madrugada, já nas primeiras horas deste sábado (06/04), a Polícia do Equador realizou um operativo de invasão da Embaixada do México em Quito e capturou o ex-vice-presidente Jorge Glas, que estava vivendo na sede diplomática desde dezembro passado.
A ação aconteceu horas depois de o governo mexicano anunciar, nesta sexta-feira (05/04), que outorgaria asilo político a Glas e solicitar ao Equador um salvo conduto para que o político pudesse viajar à Cidade do México.
O governo mexicano reagiu rapidamente ao fato, condenando de forma veemente a medida adotada pelo Equador. A chanceler do México, Alicia Bárcena, acusou Quito de “violar a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas” e condenou “as lesões sofridas pelo pessoal diplomático mexicano”, que foi agredido pelos policiais equatorianos.
Um vídeo realizado no momento em que dois furgões policiais ingressam à sede diplomática mostra algumas dessas agressões, até mesmo contra o diplomata mexicano Roberto Canseco, chefe da missão do país em Quito, que chega a ser jogado no chão.
En Ecuador el fascismo tienen nombre: Daniel Noboa, violando el derecho internacional invadió la embajada de Mexico y secuestró a Jorge Glas, el encargado mexicano fue agredido cuando intentaba evitar ese acto barbaro. México anunció la ruptura de relaciones diplomáticas!! pic.twitter.com/MGdyaiZ9pX
— DAViD.cu (@_Davidcu) April 6, 2024
Canseco é embaixador interino do México na capita equatoriana. Assumiu a chefatura da missão de forma provisória após a última embaixadora, Raquel Serur Smeke, ser declarada “persona non grata” no país, por decisão do presidente de extrema direita do Equador, Daniel Noboa, em função de sede do país norte-americano ter dado refúgio a Glas.
O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, afirmou através de suas redes sociais que “policiais de Equador entraram à força na nossa embaixada e levaram o ex-vice-presidente desse país, que se encontrava refugiado e tramitando asilo, devido à perseguição e acosso judicial que enfrenta”.
“Se trata de uma flagrante violação ao direito internacional e à soberania do México, razão pela qual eu deu instruções à nossa chanceler que emita um comunicado sobre este fato autoritário, proceda dentro das normas legais para levar esta acusação a instâncias internacionais e declare a suspensão das nossas relações diplomáticas com o governo do Equador”, completou López Obrador.
Por sua parte, o governo do Equador afirmou, através de um comunicado oficial, que a operação teve como objetivo “defender a soberania nacional, e não permitir que ninguém possa intervir nos assuntos internos do país. Nenhum delinquente pode ser considerado perseguido político”.
Quem é Jorge Glas
Vice-presidente do Equador entre maio de 2013 e novembro de 2017 – durante o último mandato de Rafael Correa –, Glas já cumpriu seis anos de prisão no Equador, em função de uma condenação que sofreu em 2017, a partir de documentos da Operação Lava Jato relativos a contratos internacionais das empreiteiras OAS e Odebrecht. Ele afirma que a ação judicial fez parte de uma operação de “lawfare” (perseguição judicial), similar a que sofreu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também por obra da Lava Jato.
Em novembro de 2022, Glas recebeu o benefício da liberdade condicional, com a qual passou a cumprir o que restava da sua pena (de oito anos) em prisão domiciliar.
No entanto, com a vitória do extremista de direita Daniel Noboa nas eleições presidenciais de 2023, e temendo uma pressão política ao Judiciário para que o benefício da condicional fosse retirado, o político decidiu buscar apoio na embaixada mexicana.
Em março, segundo a imprensa local, a polícia do Equador já havia cogitado uma invasão da embaixada mexicana, sustentada por uma determinação da Justiça, mas acabou desistindo da ideia após o governo de López Obrador ameaçar romper relações com o país caso a ação fosse realizada.