O presidente do Equador, Lenín Moreno, retirou nesta quinta-feira (03/08) as funções de seu vice, Jorge Glas, em meio a uma crise na Aliança País, coalizão que levou os dois ao poder no fim de maio após vencer as eleições realizadas em abril.
Por meio de um decreto, Moreno retirou as funções designadas ao vice-presidente, como a liderança do Conselho Nacional de Produção do Equador, com a justificativa de que Glas “não entendeu” o compromisso da Revolução Cidadã que “implica servir a pátria em unidade de esforços”.
A medida, porém, não equivale a uma destituição, já que Glas só pode ser destituído por meio de um julgamento da Assembleia Nacional, o parlamento equatoriano.
A iniciativa de Moreno evidencia a ruptura entre o atual presidente, de um lado, e seu vice e o ex-mandatário, Rafael Correa, de outro. Moreno foi membro do governo de Correa e seu vice-presidente entre 2007 e 2013, e foi apresentado pelo hoje ex-presidente como candidato à sua sucessão.
Agência Efe / Arquivo
Lenín Moreno (centro), entre Rafael Correa, presidente do Equador, e Jorge Glas, vice-presidente, durante campanha eleitoral, em fevereiro
Glas também foi vice de Correa e permaneceu no cargo ao ser reeleito na chapa com Moreno nas eleições de abril. Nesta quarta-feira (02/08), ele lançou um comunicado à população equatoriana com críticas públicas a Moreno, a quem acusou de estar “assentando as bases para um Estado de corrupção ao pactuar com personagens nefastos da história nacional”, como o ex-presidente Abdalá Bucaram (1996-1997), de força política opositora à Aliança País, cuja família teria ficado com a administração da CNEL (Corporação Nacional de Energia Elétrica).
O vice-presidente equatoriano também afirmou que Moreno “entregou o controle dos meios públicos a representantes dos meios privados” e “manipulou de maneira perversa as cifras econômicas” do Equador ao afirmar que o governo Correa “gastou em demasia” e endividou o país.
A la opinión pública. pic.twitter.com/JNdKXx1tiE
— Jorge Glas (@JorgeGlas) 2 de agosto de 2017
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Glas também classificou como “inaceitável” a declaração de Moreno de que instruiu seus ministros e secretários a “denunciar todas as irregularidades, que são muitas”, o que insinuaria a existência de esquemas de corrupção com a cumplicidade do governo anterior.
“Jamais encobrimos os corruptos, pelo contrário, os denunciamos”, disse Glas. “Corrupção institucionalizada é entregar as empresas elétricas aos Bucaram”, acrescentou.
As referências de Moreno à corrupção também se relacionam à acusação de um delator da construtora brasileira Odebrecht divulgada na terça-feira (01/08) de que Glas estaria envolvido com o esquema de propinas da empresa no Equador.
Glas também se pronunciou sobre a acusação por meio de comunicado. “Ratifico minha vontade de apoiar todas as investigações que sejam necessárias para que a verdade brilhe e se sancione todo ato de corrupção”, disse o vice-presidente, acrescentando que “ninguém nunca apresentou uma única prova contra mim, pela simples razão de que não existe”.
Em resposta ao comunicado de Glas, Moreno publicou um vídeo nas redes da Aliança País convocando os apoiadores à unidade e afirmando que seguirá buscando o diálogo com todos os setores e “a recuperação de um amplo apoio social à Revolução”.
“Não vamos ceder a nosso compromisso de lutar pela ética na política, em nosso combate frontal contra a corrupção respeitando a independência de funções e os devidos processos”, disse o presidente equatoriano.
Rafael Correa, que já manifestava suas críticas a Moreno há algumas semanas, escreveu ontem em seu Twitter que “o roteiro é o mesmo que no Brasil”, prevendo o rompimento entre o presidente e o vice, que ele acredita se desenvolverá em uma perseguição judicial a inimigos políticos de Moreno e seus novos aliados.
Em reação à medida decretada hoje por Moreno contra seu vice, Correa manifestou seu apoio a Glas. “O diálogo só foi para os que odeiam a Revolução! Força, Jorge. Encare como uma condecoração”, escreveu o ex-presidente em seu Twitter.
¡Ups!
¡El “diálogo” sólo ha sido para los que odian la Revolución!
Adelante, JORGE. Tómalo como una condecoración.https://t.co/VjAXGtJI23— Rafael Correa (@MashiRafael) 3 de agosto de 2017