No último mês, a jornalista franco-brasileira Manuela Picq deixou o Equador após o governo do país não conceder novo visto. O que ela possuía foi revogado por ela ter participado de manifestações no país contra o presidente Rafael Correa. À imprensa, Picq anunciou que iniciaria a tramitação para obter um visto do Mercosul para poder voltar ao país, onde tem uma união estável com um líder indígena. Mas, em entrevista exclusiva a Opera Mundi, o chanceler interino do Equador, Xavier Lasso, sinalizou que, caso ela faça novo pedido, este será negado.
Reprodução/ Facebook
Manuela Picq e seu companheiro equatoriano Carlos Pérez Guartambe
“O Estado equatoriano tem o direito de dizer que não vai conceder novo visto porque ela manifestou posição partidária não geral, mas concreta, em um momento delicado da sociedade equatoriana”. Questionado sobre o fato de ela ter um companheiro equatoriano, Lasso reafirmou a possível negativa. “Creio que não. Mesmo com um companheiro equatoriano.”
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Manuela não só tem um companheiro equatoriano, o líder indígena Carlos Pérez Guartambel, como também dava aulas na Universidade São Francisco de Quito e trabalhava como jornalista freelancer para meios de comunicação internacionais como a emissora qatariana Al-Jazeera.
Agência Andes
Lasso assumiu função de chanceler em julho deste ano
Incômodo
Para o responsável pela diplomacia do Equador na ausência do chanceler Ricardo Patiño — que foi designado para coordenar o diálogo com a sociedade equatoriana em meio aos protestos —, “esse tipo de situação não condiz com nossa política migratória. (…) “Claro que nos dói, nos incomoda, mas o problema começou com esse visto de intercâmbio cultural. Esse tipo de visto proíbe a participação política”. E pondera: “todo ser humano é político. Então como se proíbem as manifestações políticas? Não se proíbem. O que se proíbe são as partidárias”.
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A justificativa do governo equatoriano, de acordo com nota do Ministério das Relações Exteriores, é que “a revogação ocorreu porque a jornalista estava autorizada a morar – sem direito a trabalhar — no país sob o visto 12 VIII, que se destina a permitir o ingresso no Equador de pessoas ‘apoiadas por organismos nacionais e constituídos legalmente para desenvolver programas de intercâmbio cultural’. A modalidade do visto, no entanto, veda qualquer envolvimento em atividades políticas e laborais no país”.
Com relação à situação, que gerou repercussão na imprensa brasileira e internacional, Lasso afirma que o caso poderia ter um desfecho diferente, mas destacou que o Estado pode provar o envolvimento da jornalista em atividades contra o governo do país: “Ela participou manifestações violentas. O Estado pode provar isso”.
Segundo nota do Ministério equatoriano, “Manuela Picq vinha, desde 2014, envolvendo-se ativamente em atos políticos no Equador, chegando a afirmar nas redes sociais que ‘os dias desta ditadura estão contados’”. O documento oficial aponta ainda outros quatro casos em que ela participou de manifestações no país.
Em declarações ao jornal Folha de S. Paulo em 24 de agosto, Manuela disse estudar possibilidades diversas como conseguir visto pela Justiça indígena ou ainda casar no Brasil e reconhecer o matrimônio no Equador. A reportagem de Opera Mundi tentou entrar em contato com Picq por telefone e e-mail, mas, até a publicação desta matéria, ela não havia respondido às solicitações.