O mestre de obras Ramón Romero se viu obrigado a mudar de ganha-pão após a erupção do vulcão chileno Puyehue, no início de junho. Sua ferramenta de trabalho é a mesma que usava na construção de um hotel, mas agora sua pá serve para remover cinzas e areia vulcânica dos telhados de Villa La Angostura, um charmoso vilarejo argentino.
“Com a chegada das cinzas, a obra ficou paralisada devido aos cortes de luz, falta de água e pelos materiais que não chegariam, além do acúmulo de cinzas na estrada”, conta ele ao Opera Mundi. “Então me dediquei, junto a outros companheiros, a limpar os telhados cobertos de sedimentos. Não ganho o que ganhava, mas já é alguma coisa. Por isso, agora também trabalho nos domingos e feriados”, diz.
Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi
Villa la Angostura foi duramente atingida pela chuva de cinzas do Puyehue. E a economia local já sofre duro prejuízo
Segundo informações oficiais, cerca de duas mil toneladas de cinzas e areias caíram sobre cada hectare do vilarejo, durante as duas semanas de precipitação de material vulcânico. Devido ao acúmulo sobre as casas, Ramón e sua equipe demoram cerca de quatro dias para limpar completamente apenas um telhado.
Leia mais:
Com 80% das reservas canceladas pelo vulcão, Bariloche aposta nos brasileiros para se recuperar
O impacto da queda das cinzas, que quase soterraram as construções, levou as autoridades municipais de Villa La Angostura a declarem situação de “alerta máximo” e de desastre ambiental. Muitos dos habitantes, sem trabalho, deixaram a cidade. A economia, baseada no turismo, afundou e muitos dos hotéis e restaurantes fecharam ou reduziram o número de funcionários.
Leia também:
Em Bariloche, mutirão removeu toneladas de cinzas vulcânicas das ruas
O drama de Villa La Angostura: após ser coberto por cinzas, vilarejo na Argentina tenta se reerguer
O dono de um restaurante local, cujas mesas, guarda-sóis e cadeiras da área exterior ficaram cobertas por montanhas de cinzas e areia, mostra preocupação em relação ao fluxo mínimo de turistas. “Inauguramos em maio e, em junho, aconteceu isso. Parece que estamos caminhando para trás”, afirma Luciano Miguel Llull, preocupado. Segundo ele, quando a primeira tempestade de sedimentos começou, um casal de alemães almoçava no local.
Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi
A equipe do mestre de obras Ramón Romero deixou de lado a construção para ajudar na limpeza de Villa La Angostura
“Eles me perguntavam o que estava acontecendo e eu expliquei que era resultado da erupção. Falei para se informarem sobre os pontos turísticos que visitariam, por que a coisa ficaria feia”, conta ele, já familiarizado com o evento. Em 2008, quando outro vulcão chileno, o El Chaitén, provocou efeito similar na cidade argentina de El Bolsón, localizada a poucos quilômetros de San Carlos de Bariloche, seu irmão estava no local impactado pelas cinzas, o que o preparou para a atual situação.
Segundo ele, a cidade já está se reerguendo e o turismo já deveria ter sido retomado: “Há muito sensacionalismo midiático e isso nos prejudica. Em alguns dias, a cidade já estará completamente limpa e tudo voltará ao normal mas, para isso, precisamos dos turistas”, explica ele.
Leia mais:
Brasileiros em aeroporto de Buenos Aires descrevem 'epopeia' para voltar para casa
Deslocados por erupção de vulcão chileno já podem retornar para casa
Galeria de imagens: Argentina, Brasil e Uruguai têm voos cancelados por conta de vulcão
Erupção de vulcão chileno provoca chuva de cinzas em Bariloche
Vulcão entra em erupção no Sul do Chile
Em Bariloche, apesar do panorama bem menos caótico, a baixa do turismo provocou recessão na economia e é motivo de preocupação entre os moradores. Alguns hotéis tiveram que fechar as portas pelo cancelamento da maioria das reservas e alguns estabelecimentos comerciais sentem um impacto significativo com a falta de clientes.
O dono de um restaurante na região central, Andrés Suarez, teve que adiantar as férias de seus funcionários. “Geralmente tenho cerca de cinco trabalhadores por dia. Nestas últimas semanas cheguei a ter somente três”, lamenta, com evidente preocupação. “Estou fazendo todo o possível para não fechar o meu negócio, que tenho há nove anos. Mas acaba virando um efeito dominó, porque não consigo pagar aluguel, salários e fornecedores”, diz.
Aldo Jofre Osorio/Opera Mundi
Os funcionários do restaurante de Andrés Suárez, em Bariloche, tiveram suas férias antecipadas
Para evitar impactos no setor, a Associação Empresarial Hoteleiro-Gastronômica de Bariloche realizou reuniões emergenciais para aconselhar aos proprietários a manutenção dos postos de trabalho. “Vamos trabalhar para obter paliativos por parte do Estado e do governo provincial, para evitar transformar o conflito natural que tivemos com o vulcão em um conflito social”, afirmou o gerente da associação Joaquín Escardó.
Segundo ele, apesar de a associação não ter sido informada de demissões no setor, esta está em constante diálogo com os sindicatos. “Todos compreendem a situação e vamos tentar contorná-la da melhor maneira possível. Por esta razão, as principais medidas até agora foram a antecipação de férias e concessão de dias livres, e os salários estão sendo pagos normalmente”, garantiu.
Siga o Opera Mundi no Twitter
Conheça nossa página no Facebook
NULL
NULL
NULL