Efe
Gabriel Boric ao lado da antecessora na liderança da Confech, Camila Vallejo
Seus nomes carecem de “chilenidade” e um deles sequer nasceu na América Latina. Gabriel Boric e Noam Titelman foram os vencedores nas eleições das duas agremiações universitárias mais importantes do Chile. Agora, terão a missão de repetir o sucesso dos seus antecessores, Camila Vallejo e Giorgio Jackson, e fazer avançar em 2012 o que foi, no ano passado, o movimento social mais exitoso desde o fim da ditadura de Pinochet.
Ambos tiveram que cruzar fronteiras em sua trajetória. Gabriel Boric, por exemplo, nasceu em Punta Arenas, capital da província de Magallanes, no extremo sul do Chile, região onde não há conexão terrestre direta com o resto do país. Para se chegar por terra a Santiago, por exemplo, é preciso passar pelo território argentino. Apesar da histórica luta por autonomia em sua região natal, Boric se define como “um patagônico fazendo pátria na capital”.
Boric, de 25 anos, cursa o último ano de direito, na Universidad de Chile, principal universidade do país, considerada pública, apesar de não oferecer educação superior gratuita. Sua eleição como presidente da FECH (Federação dos Estudantes da Universidad de Chile) representa o fim da ingerência de partidos políticos que caracterizou quase todas as diretorias da entidade na última década – os três presidentes que o antecederam eram militantes do Partido Comunista, incluindo Camila Vallejo, a quem ele venceu nas eleições de dezembro passado, por pouco menos de duzentos votos.
Gabriel Boric pertence à Esquerda Autônoma, um movimento de esquerda apartidária “mas não antipartidário”, segundo suas próprias palavras. “Queremos responder ao divórcio evidente entre a cidadania chilena e as instituições (incluindo os partidos), que foi um dos responsáveis pela vitória do movimento estudantil no ano passado”, avaliou.
Desde a sua chegada à presidência da FECH, tem enfrentado o rótulo de “ultra esquerdista” e acusações de que simbolizaria a radicalização do movimento. Em resposta, Boric afirmou que o movimento estudantil continuará disposto a dialogar com o governo, como também esteve com Camila Vallejo, mas que a manutenção desse diálogo vai depender “da vontade do Governo em fazer reformas reais nos sistemas educacional, tributário e político, e não somente de moderar seus interesses eleitorais”.
O chileno-israelense
A principal eleição estudantil dos últimos meses, porém, foi a da FEUC (Federação dos Estudantes de Universidades Católicas), onde tradicionalmente ganham grupos ligados a partidos de direita.
Se os conservadores retomassem o poder, enfraqueceriam a aliança FECH-FEUC, que marcou o nascimento da CONFECH (Confederação dos Estudantes do Chile). Porém, pela terceira vez consecutiva, a vitória foi da chapa NAU (Nova Ação Universitária), de centro-esquerda, respaldando o mandato de Giorgio Jackson, e levando à presidência o estudante de Letras e Engenharia Comercial Noam Titelman.
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Filho de chilenos de descendência judia, Titelman, de 24 anos, nasceu em Tel Aviv, e viveu em Israel durante toda sua infância. “Meus pais consideravam o país muito complicado, por isso voltamos. É um assunto difícil, porque defendemos o Estado Palestino, mas também que Israel possa existir em paz na região”, relatou.
Titelman considera que um dos grandes desafios do movimento este ano será manter a reforma educacional como o centro do debate político do país, apesar de ser um ano de eleições municipais. Segundo ele, não haverá apoio declarado do movimento para nenhum candidato, mesmo os que mostrarem a favor das ideias do movimento. “Nosso chamado será para que as pessoas votem, exerçam seu direito, e que se lembrem, na hora de escolher, quem são os que desde o ano passado estão nos sabotando, os que demonstram apoio opaco, e os que entregam algo mais”, completou.
Sobre o diálogo entre a Confech e o Governo, Titelman considera que o principal sinal negativo veio do novo ministro da Educação, Harald Beyer, que em seu discurso de posso disse que o debate educacional teria que ser travado exclusivamente no Congresso, e que até o momento não realizou nenhum tipo de contato com os novos diretores.
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