O Exército do Sudão suspendeu nesta quarta-feira (31/05) a sua participação nas negociações para alcançar uma trégua no conflito contra o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR) e pôr fim à escalada de violência iniciada em 15 de abril, que mergulhou o país em uma grave crise humanitária.
Em breve comunicado divulgado por meio das redes sociais, a instituição anunciou sua decisão. Segundo o Exército, “as FAR violaram reiteradamente as tréguas sugeridas e não respeitaram os compromissos assumidos na rodada anterior de diálogo, como a retirada de hospitais e prédios residenciais que ocupavam durante os confrontos”.
Por sua vez, o grupo paramilitar declarou que as forças armadas sudanesas atacaram as suas posições no terreno em Cartum e na cidade vizinha de Omdurman, e lançaram bombardeios aéreos e de artilharia pesada contra bairros residenciais nesta última cidade e em Bahri.
القيادة العامة للقوات المسلحة
الأربعاء ٣١ مايو ٢٠٢٣م
تعميم
قررت القيادة العامة للقوات المسلحة تعليق المحادثات الجارية في جدة، وذلك بسبب عدم إلتزام المليشيا المتمردة بتنفيذ أي من البنود التي نص عليها الإتفاق، والاستمرار في خرق الهدنة.مكتب الناطق الرسمي باسم القوات المسلحة pic.twitter.com/NAKRlcEkYB
— القوات المسلحة السودانية – الإعلام العسكري (@GHQSudan) May 31, 2023
As FAR também indicaram que “apoiam incondicionalmente” a mediação de Riad e Washington, e que estão trabalhando para solucionar a crise humanitária que o Sudão enfrenta, embora não tenham se referido à possível suspensão das negociações.
Até o momento, as negociações estavam ocorrendo na cidade saudita de Jedah e mediadas pela Arábia Saudita e pelos Estados Unidos.
Segundo o jornal local Alrakoba, os diálogos para alcançar um acordo começaram no começo de maio “sobre o compromisso de proteger os civis”, confirmando que os acordos de tréguas de curto prazo “foram repetidamente violados”.
The Rapid Support Forces strongly condemns the Sudanese Armed Forces (SAF) and its backers linked to the former regime of military dictator Omar al-Bashir for violating the ceasefire agreement and humanitarian arrangements.
Earlier today, the SAF attacked an RSF position at a…
— Rapid Support Forces – قوات الدعم السريع (@RSFSudan) May 31, 2023
Durante uma visita às tropas em Cartum, o chefe das forças armadas sudanesas, general Abdel Fattah al Burhan, declarou que “o exército está pronto para lutar até a vitória”.
Já as FAR acusaram o Exército de violar a trégua e afirmaram que “exercerão o seu direito de defesa”.
Twitter/القوات المسلحة السودانية – الإعلام العسكري
General Abdel Fattah al Burhan, declarou que "o exército do Sudão está pronto para lutar até a vitória”
Na noite da última terça-feira (30/05), novos confrontos atingiram a capital Cartum e a cidade de El-Obeid, capital do estado de Cordofão do Norte.
Já sobre os acordos de trégua, o jornal afirmou que expirou na última segunda-feira (29/05) um cessar-fogo que durou sete dias, e que apesar das intenções de estender o acordo, os confrontos ainda persistem.
A emissora Al Jazeera, apontou que a União Africana (UA) analisa que a suspensão das negociações “não deve desencorajar novas tentativas de mediação”.
O chefe de gabinete do presidente da Comissão da UA e porta-voz para a crise do Sudão, Mohamed El Hacen Lebatt, afirmou que em negociações de conflito, uma das partes suspender sua participação é um “fenômeno clássico”, segundo o jornal.
Os combates, que se estenderam também à região de Darfur (no oeste do país), já provocaram a deslocação forçada de quase um milhão e meio de pessoas segundo a Organização Internacional para Imigração (OIM), sendo que 25 milhões de sudaneses (metade da população nacional) necessitam de ajuda humanitária.
Segundo o balanço oficial, os combates deixaram até agora mais de 700 mortos, embora o Sindicato dos Médicos do Sudão considere que existam mais de 860 e o Projeto de Localização e Dados de Eventos de Conflitos Armados (Acled, por sua sigla em inglês) informe que mais mais de 1.800 pessoas perderam suas vidas.
O conflito no Sudão opõe os generais Abdel Fatah al-Burhan, chefe das Forças Armadas, e Mohamed Hamdan Dagalo, mais conhecido como Hemedti e líder do grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR).
Antigos aliados, os dois se distanciaram em meio a acusações mútuas de tentativas de concentrar o poder. Enquanto Hemedti denuncia uma tentativa de restaurar o antigo regime que sustentava o ditador Omar al-Bashir, Burhan quer integrar as FAR no Exército para reduzir a autonomia do grupo.
O Sudão não tem um governo funcional desde 2021, quando as forças armadas do país destituíram o governo de transição do então primeiro-ministro Abdalla Hamdok e instituíram um estado de emergência entendido como um golpe militar.
Tal período de transição, desde a destituição de al-Bashir, deveria ser finalizado em possíveis eleições no início de 2024.
(*) Com Monitor do Oriente Médio e TeleSUR