Entidades empresariais que representam os exportadores brasileiros preveem poucos ganhos imediatos no comércio exterior com a entrada da Venezuela no Mercosul. Alguns, no entanto, avaliam que os ganhos no longo prazo podem ser substanciais, pois o mercado venezuelano deve ganhar importância e trazer peso ao Mercosul.
O protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul foi aprovado na terça-feira (15) no Senado brasileiro, mas a entrada do país no bloco ainda depende do Congresso paraguaio.
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De acordo com a gerente executiva da Unidade de Negociações Internacionais da CNI, Soraya Rosar, no curto e médio prazo o Brasil não deve ter ganhos muito significativos, pois já vinha aumentando suas exportações para o mercado venezuelano independente da entrada no Mercosul. “Já temos acordos para reduzir tarifas e ampliar o comércio com a Venezuela, e isso vinha acontecendo. A entrada no Mercosul antecipa esse processo”, analisa.
No ano passado, o país presidido por Hugo Chávez foi o sétimo maior comprador de produtos brasileiros, com 5,2 bilhões de dólares, uma alta de 10,6% sobre 2007 (4,7 bilhões de dólares) e de 747% em relação a 2003 (608 milhões de dólares). Embora destaque esse forte aumento nos últimos anos mesmo com o país fora do Mercosul, Soraya avalia que uma rejeição por parte do Brasil poderia ter fechado o mercado venezuelano aos produtos brasileiros.
O vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, concorda que até poderia haver algum tipo de represália por parte dos venezuelanos caso a adesão fosse rejeitada pelo Senado, mas minimiza seu impacto. Ele avalia que muitas compras são decididas pessoalmente por Chávez, que resolveu deixar de comprar dos Estados Unidos e da Colômbia e privilegiar o Brasil pelo seu relacionamento pessoal com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Tenho dúvidas se o Chávez passaria a rejeitar também do Brasil, até porque para muitos produtos ele não teria opção de outro fornecedor. Poderia haver uma perda, mas acredito não seria muito grande”, diz.
Soraya afirma que o setor industrial teve posições diversas sobre a adesão venezuelana. Enquanto um grande número de empresários que está ampliando as vendas para o país vizinho se diz favorável à integração, outros temem que a participação do presidente Chávez pode dificultar ainda mais as negociações comerciais do Mercosul com outros países. “O Chávez é passageiro, talvez tenhamos essa dificuldade no curto e médio prazo, mas no longo prazo garantimos um novo mercado importante no nosso bloco regional”, avalia.
Outras entidades também destacaram os possíveis impasses nas negociações comerciais do Mercosul como o maior problema da entrada da Venezuela no mercado comum. “Tem que ter unanimidade para decidir negociações comerciais. Já não conseguimos isso hoje com quatro membros, imagine com a participação do Chávez”, afirma Castro, da AEB.
O diretor de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária), Carlos Sperotto, concorda, e diz temer inclusive uma fragilização do Mercosul. “Acho que enfraquece o bloco, pois pode sinalizar o início de um processo de tratamentos individuais, de não negociarmos mais conjuntamente”.
Exportações
Em nota, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que a decisão de aceitar a Venezuela reforça o empenho do Brasil em avançar na integração da América do Sul. “Com a participação da Venezuela, o Mercosul passará a constituir um bloco com cerca de 270 milhões de habitantes e PIB [Produto Interno Bruto] superior a dois trilhões de dólares”.
Até novembro deste ano, lembra Amorim, a Venezuela, que já é o segundo maior comprador de mercadorias brasileiras na América do Sul, figura como o sexto destino das exportações brasileiras para o mundo e responde pelo segundo maior superávit nas trocas comerciais do Brasil com o exterior.
Os principais produtos embarcados pelo Brasil com destino à Venezuela em 2008 foram carnes e miudezas comestíveis (960 milhões de dólares), máquinas, aparelhos e material elétricos (624,2 milhões de dólares), veículos e autopeças (523,9 milhões de dólares) e máquinas e equipamentos (508,5 milhões de dólares). Soraya afirma que a pauta de exportações é bastante diversificada e cresceu recentemente em cima do decréscimo da indústria venezuelana nos últimos anos.
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) destaca também que a Venezuela é um dos principais mercados para as exportações de serviços brasileiros, principalmente na área da construção, que chegam a 16 bilhões de dólares anuais.
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