O chefe da Defesa Civil em Áquila, Guido
Bertolaso, criticou no dia 31 de março os “imbecis que se divertem
difundindo notícias falsas”, e pediu punição. Entre os
“imbecis”, estava o físico Giampaolo Giuliani,
que tinha lançado um alerta: a região seria atingida por um
terremoto “desastroso” no dia 29, ou seja, domingo retrasado. A
terra não tremeu naquele dia e Giuliani caiu em desgraça. Mas uma
semana depois, veio a tragédia que, até a noite desta
segunda-feira (6), já havia matado mais de 150 pessoas e deixado mais de 1,5
mil feridos.
Na ocasião, Bertolaso disse: “Todos sabem que
não se pode prever terremotos”. Hoje, Giuliani, que é técnico do
Laboratório Nacional de Física e Astrofísica Gran Sasso,
respondeu: “Não é verdade, nós tínhamos previsto”. Segundo
ele, o Instituto Italiano de Geofísica registrou cerca de 200 abalos
sísmicos em Áquila, cidade no epicentro do terremoto, nos últimos
dois meses.
“Pode ser que amanhã me coloquem na cadeia”,
afirmou o especialista. “Mas eu confirmo: não é verdade, é
mentira que não se pode prever um terremoto. Há dez anos
conseguimos prever eventos desse tipo a uma distância de 100 a 150
quilômetros de distância”.
Giuliani disse que havia
detectado um forte aumento de gás radônio na superfície, gás que
que seria um sinal iminente de terremoto. “Essa noite, o meu
sismógrafo denunciava um forte sinal de terremoto e isso estava
online”, afirmou. “Podia ter sido visto se alguém estivesse
trabalhando ou se alguém estivesse preocupado. Vivemos a noite mais
terrível da nossa vida, eu também me machuquei… Esses cientistas
canônicos sabem que os terremotos podem ser previstos”.
Na
noite de 29 março, houve em Sulmona, cidade também localizada na
província de Abruzzo, um terremoto de 4 graus na escala Richter.
Esse fato, juntamente com a previsão do especialista, semeou pânico
na população. O técnico conta que foi acusado de “brincar com
assuntos sérios” e que foi denunciado à polícia pela
prefeitura de Áquila por alarmar a população.
A imprensa
italiana veiculou análises que dão conta de que pode ser possível
prever um terremoto, mas não o local nem o momento exatos. Dessa
forma, além do inconveniente de transportar uma grande quantidade de
pessoas e mantê-las longe de casa por um longo período, haveria
também o perigo de causar ainda mais mortes, se o tremor ocorresse
no local para onde foram levadas.
Repercussão
O
diretor do Centro de Sismologia da UnB (Universidade de Brasília),
George Sand França, concorda com o ponto de vista de Guido Betolaso.
“Existem estudos, mas ainda não é possível prever terremotos. É
uma ciência muito indecisa, não dá para afirmar nada”, disse ao Opera Mundi.
Sobre
a probabilidade de prever eventos desse tipo a uma distância de 100
a 150 quilômetros de distância, ele disse: “A comunidade
científica ainda não acredita nisso, ainda está muito no começo,
é novidade para a gente”.
O pesquisador, que é doutor em
sismologia, afirmou também que quase não há estudos que relacionem
a emissão do gás radônio com a previsão de terremotos, e por isso
é difícil afirmar que o alerta sobre a catástrofe na Itália tenha
sido correto. Mas reconheceu que o trabalho feito por Giampaolo
Giuliani é pioneiro e bem-vindo.
“É provável que esta
pesquisa que utilizou os índices de emissão do radônio para prever
o terremoto seja inédita, e mostra a necessidade de começar a fazer
este tipo de investigação. É um novo caminho para a pesquisa com
prevenção de terremotos”.
O nível de emissão de radônio,
no entanto, não serviria para alertar todos os lugares do planeta,
analisa França. Alguns países como Itália, Japão e Estados Unidos
emitem o gás, mas outras regiões têm substâncias diferentes.
(Reportagem de Sarah Germano e Daniella Fernandes)
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