A rápida recuperação do Brasil poderia atrair uma quantidade desmesurada de capital estrangeiro e elevar ainda mais a cotação do real, alertou hoje (4) o Fundo Monetário Internacional (FMI), que recomendou ao governo brasileiro pensar em retirar parte de seu programa de estímulo.
“O Brasil vai aumentar o apetite dos mercados de capitais, dada a solidez de sua economia”, advertiu, em entrevista coletiva, o diretor do departamento das Américas do FMI, Nicolás Eyzaguirre.
Assim, enquanto outros países ainda se debatem para escapar da crise, o desafio do Brasil é “como tramitar a abundância”, a julgamento do organismo.
Eyzaguirre afirmou que, se a recuperação mundial se afiançar com o aumento da demanda privada, “o Brasil poderia começar a pensar em retirar um pouco de suas medidas de estímulo econômico, para evitar uma valorização excessiva de sua moeda”, derivada da entrada de capitais.
Parte do dinheiro barato injetado pelos bancos centrais dos países desenvolvidos está se desviando atualmente a mercados emergentes, onde os investidores recebem mais rentabilidade, o que provocou uma alta extraordinária de suas bolsas.
O Brasil é um dos beneficiados, por causa de suas boas perspectivas econômicas. Segundo o FMI, a economia brasileira contrairá 0,5% este ano e crescerá 3,5% em 2010, ajudado pela alta dos preços das matérias-primas que exporta.
“Prevemos uma recuperação mais rápida no Brasil” do que em outros países, devido à força do consumo interno e à entrada de capital, explicou Eyzaguirre.
Previsão
O Instituto de Finanças Internacionais (IIF, em inglês) divulgou nesta sexta-feira que a previsão de que a América Latina atrairá cerca de 151 bilhões de dólares em fluxos de capital no próximo ano, acima dos cerca de 100 bilhões de dólares deste ano.
A maior associação de banqueiros do mundo lembrou que os fluxos de capital para a região totalizaram 132,4 bilhões de dólares durante o ano passado.
O relatório considera também que na América Latina há “duas regiões”. A primeira seria integrada pelos países com acesso ao crédito e do qual fariam parte Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru. No segundo grupo, estariam países que mantêm relações tensas com a maioria de seus credores externos, como Argentina e Equador.
O IIF acrescentou que esse último grupo representa cerca de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) nominal da região, mas receberá apenas 7,7 bilhões de dólares líquidos, ou cerca de 8% do total de fluxos em 2009.
A Argentina retomou as conversas recentemente sobre a dívida de 6,7 bilhões de dólares que tem com o grupo de países credores do Clube de Paris, e que inclui, entre outros, França, Estados Unidos e Japão.
À espera dos resultados dessas conversas, o grupo de banqueiros insistiu em que “a moratória do Equador e a apropriação de alguns investimentos diretos estrangeiros por parte da Venezuela esfriaram ainda mais o clima de investimento, em um período difícil”.
O IIF afirmou que, entre os países com acesso ao crédito, houve um aumento do crescimento, que coloca as bases para o desembarque de maiores fluxos de capital em 2010.
Liderança brasileira
A associação lembrou, nesse sentido, que o Brasil é o líder dentro desse grupo de países, enquanto o México aparece em último lugar.
Segundo o IIF, a propícia evolução do Brasil fica evidente no valor do real e na recente qualificação de grau de investimento ao país concedida pela agência Moody's.
“Os fluxos líquidos privados de capital vão a caminho de se fortalecer em 2010 e, além dessa data, à medida que o país importa capital para desenvolver seus campos petrolíferos mar adentro”, ressalta o IIF.
Apesar disso, espera-se que os países emergentes recebam só 349 bilhões de dólares em 2009, uma quantia muito inferior aos 649 bilhões de 2008. Espera-se que, em 2010, o número aumente para 672 bilhões.
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