O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, foi acordado de forma inesperada no último domingo (28), às cinco e meia da manhã, quando cerca de 200 soldados das Forças Armadas chegaram atirando à sua casa e desarmaram os seguranças. Foi enviado à Costa Rica e a capital hondurenha, Tegucigalpa, amanheceu cheia de militares nas ruas. O golpe de Estado foi orquestrado pelo Congresso, com apoio do setor empresarial do país e do Exército, segundo duas fontes hondurenhas, o ex-deputado Juan Antonio Hernandez e o jornalista Renan Martinez, disseram ao Opera Mundi.
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“O golpe foi executado pelas Forças Armadas. Mas foi planejado pelo Congresso e o setor empresarial deu apoio ao movimento. O Exército foi um braço executor do golpe”, afirmou Hernandez, que integrou o Partido Liberal, do presidente Zelaya, e hoje é professor de história. Na avaliação de Martinez, o golpe não teria sido possível se o Congresso não tivesse tido apoio dos empresários. Seria apenas uma “força isolada”.
O ex-deputado conta que houve uma “conspiração” dos empresários, que têm relação próxima com os deputados. “As reuniões de comerciais e industriais com deputados sempre foram freqüentes. Nas últimas semanas, aconteciam quase todos os dias para tratar do assunto Zelaya”.
A oposição do empresariado, segundo ele, refletiu-se na atuação da imprensa, que fez parte do movimento que tirou Zelaya do poder por meio de uma campanha contra a realização do referendo sobre reforma constitucional que estava marcado para domingo. “O setor empresarial do país tem rádios, jornais, cadeias de televisão. Não são donos de uma, mas de várias emissoras”.
Insatisfação
O descontentamento do Congresso e do setor empresarial com Zelaya começou quando o presidente, de origem conservadora, começou a falar na necessidade de um governo voltado para os mais pobres e focado em políticas sociais, há aproximadamente dois anos.
Para o cientista político Manuel Rojas, da Flacso (Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais) na Costa Rica, as mudanças ocorreram mais no discurso do que na prática. “A única atitude de Zelaya para tentar combater o problema da pobreza no país foi aumentar o salário mínimo. Mas foi suficiente para irritar os empresários, principalmente os da construção e do comércio”.
O setor empresarial do país é composto, principalmente por produtores de frutas, frutos do mar, industriais do ramo de roupas, plástico, artigos elétricos, autopeças, medicamentos, construção e por bancários.
A agricultura é um ponto importante da economia, empregando quase dois terços da mão-de-obra do país. Os principais produtos da pauta de exportações são melão, café, banana e camarão. Com consumo interno pequeno, 70% das exportações vão para os Estados Unidos, de onde se originam mais de 50% das importações.
O salário mínimo atualmente em Honduras é de 5.500 lempiras (R$ 611) na zona urbana e 4.055 (R$ 450) na rural – no Brasil, o salário mínimo é de 465 reais mensais. Desde 2006, o aumento foi de 60%.
Alba
Mas além das políticas sociais, Zelaya irritou a oposição ao entrar na Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas) e se aproximar da esfera de influência venezuelana. Nesse contexto, segundo Renan Martinez, criou-se outro motivo de irritação dos empresários, acostumados a terem suas exigências sempre atendidas pelos sucessivos governos do país. “Isso aconteceu, por exemplo, quando Zelaya não levou uma única proposta da indústria farmacêutica à Alba. Ou quando ele quis deixar transparentes os processos de licitação”.
Os conflitos se intensificaram quando Zelaya convocou uma consulta popular, em novembro do ano passado, o que seria uma prerrogativa do Congresso, segundo a Constituição.
“O Congresso encarou o plebiscito como uma afronta, como se tivesse passado por cima do Parlamento. Além disso, ele [Zelaya] sugeria uma nova Constituição, que beneficiaria as classes populares, o que gerou medo”, disse Juan Antonio Hernandez.
O estopim foi a destituição do chefe de Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, general Romeo Vasquez, que se recusou a participar da consulta popular programada para domingo, contando para isso com um parecer da Suprema Corte de que o referendo era ilegal.
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