Em meio à tensão pela crise desatada com violentas manifestações na Venezuela, o governador do estado de Táchira, José Gregorio Vielma Mora, fez declarações críticas ao governo de Nicolás Maduro, nesta segunda-feira (24/02), dizendo não estar de acordo com o sobrevoo de aviões militares sobre a cidade de San Cristóbal, capital do Estado.
Táchira, que faz fronteira com a Colômbia, é apontado pelo chavismo como um estado problemático, com forte presença de paramilitares colombianos. Foi em San Cristóbal que nasceram os protestos que depois se espalharam pelo país, devido à uma suposta tentativa de estupro de uma estudante em um campus universitário.
Agência Efe
Criticado por governador chavista, Maduro cogitou decretar estado de exceção em Táchira
Além disso, Vielma Mora pediu a liberação de “todos os que estão aí presos por questões políticas”, como o dirigente opositor Leopoldo López e Iván Simonovis, processado por mortes em abril 2002, que desencadearam o breve golpe contra Hugo Chávez.
Aviões militares
“Eu sou contra, me incomodei muito, desnecessário terem passado alguns aviões militares sobre a cidade de San Cristóbal, isso foi um grave erro”, disse o governador chavista, em entrevista à rádio Onda, expressando que a medida foi um “excesso”.
Vielma Mora disse ter escutado as aeronaves durante uma reunião com o ministro de Interior, Justiça e Paz, Miguel Rodríguez Torres, e donos ou chefes de circuitos de rádio locais. Segundo relatos, os aviões militares sobrevoaram a capital do estado na última quinta.
“Isso é um absurdo, estamos colocando mais lenha na fogueira”, afirmou. Ele também opinou ser desnecessário e contraproducente declarar estado de exceção no estado. “O que temos que promover é mesas de diálogo. A paz começa com nós mesmos”, argumentou.
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Na última quarta-feira, o presidente Nicolás Maduro disse que para conter a onda de violência em Táchira, poderia decretar estado de exceção. O ministro de Interior e Justiça informou a suspensão temporal do porte de armas no estado e o envio de um batalhão militar para reforçar as unidades de segurança em vias de conexão a San Cristóbal.
“Zona de guerra”
Segundo Maduro, grupos violentos tinham a intenção de “transformar Táchira em Bengasi”, cidade líbia, com ataques de paramilitares provenientes da Colômbia, a caminhoneiros e instituições públicas. No dia do anúncio, na última quarta, Herminia Fernández, de 37 anos, produtora de uma emissora internacional, estava em San Cristóbal para reportagens e acabou obrigada a passar a noite em uma casa entre barricadas.
“Dependendo do lugar, San Cristóbal parecia uma zona de guerra, manifestantes nos atacaram, atiraram pedras. No lugar de maior concentração, onde os manifestantes cortam uma avenida, quase lincharam nosso cinegrafista”, contou.
“Há de tudo, estudantes e gente normal, mas também alguns encapuzados. Nas urbanizações de classe média cada um tem sua barricada, queimando lixo e fazendo panelaço. Os manifestantes pedem esse governo saia, não pedem a liberação de presos”, explicou a Opera Mundi.
Segundo ela, alguns supermercados da cidade estavam fechados na última semana, mas ainda se conseguia comida. “Não sei até quando, porque como não deixam os caminhões passarem, não chega o abastecimento. Muita gente não está saindo de casa e os que têm que ir trabalhar, vão caminhando, porque devido às barricadas, não tem transporte público”, contou.
Fernández conta que não viu polícia municipal nas ruas e que sua equipe trabalhou sem nenhum tipo de proteção. No entanto, afirma ter visto efetivos antimotins da GNB (Guarda Nacional Bolivariana). “Eles estavam evidentemente cansados, tinham as caras negras, nem eram bronzeadas, eram negras de tanto sol, e alguns tinham feridas por coisas que os manifestantes atiravam”, relatou.
Diálogo
No programa de rádio, Vielma Mora afirmou que é necessário instalar o diálogo no estado. Segundo ele “é difícil” que um setor diga “não quero feridos, não quero mortos, muito cuidado, direitos humanos, que queimem nossas instalações, mas não quero nenhum morto” enquanto outro queira ir à rua e solucionar a questão. “Um lado me diz: ‘covarde, falta de coragem’. É difícil a situação, ter que levantar a voz. (…) Eu disse aqui ninguém está autorizado a usar violência”, disse.
O governador também afirmou que um dos passos para a paz no país é a liberação de “todos os que estão aí presos por questões políticas”. Quando questionado pelos apresentadores do programa, disse que essa medida incluía ao dirigente opositor Leopoldo López, acusado por Maduro como autor intelectual dos atos de violência que desencadearam mortes em protestos, e de Iván Simonovis, processado por mortes em abril 2002, que desencadearam o breve golpe contra Hugo Chávez.