O governo japonês e a companhia de eletricidade Tepco (Tokyo Electric Power) ignoraram os perigos associados à energia nuclear, o que tornou possível o colapso da instalação, atingida por um terremoto seguido de tsunami em 11 de março de 2011, segundo a conclusão final de um relatório realizado por especialistas da área público nesta segunda-feira (23/07). A Tepco era a empresa responsável por operar a usina antes da catástrofe.
“A empresa e os órgãos reguladores estavam muito confiantes e consideravam que eventos piores aos incluídos em suas estimativas não ocorreriam. Por isso não estavam conscientes de que as medidas elaboradas para evitar o pior dos cenários apresentavam muitas falhas”, explicaram os especialistas, que integraram uma comissão de inquérito nomeada pelo governo para investigar o desastre.
“A Tepco disse que a perda de quase todas as fontes de eletricidade devido a um terremoto e um tsunami superou suas previsões. Mas isso aconteceu porque a empresa simplesmente decidiu não incluir este cenário dentro de suas hipóteses, baseando-se em um mito sem fundamento sobre a segurança”, diz o relatório. Este excesso de confiança, também teria feito com que os funcionários da Tepco não tivessem treino suficiente para atuar e pensar de maneira mais flexível diante do ocorrido.
No documento de 450 páginas consta também que os procedimentos de contenção tomados após a catástrofe deixaram a desejar. Ele cita que ocorreu “uma série de problemas internos na Tepco, como uma gestão de crise deficiente, uma estrutura organizacional pouco adaptada a situações de emergência e formação insuficiente para casos de acidentes graves”.
Isso teria provocado, por exemplo, que a injeção de água para o reator 3 fosse suspensa por mais de seis horas, pois os técnicos o fecharam sem pensar antes na necessidade de criar um sistema de refrigeração alternativo.
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Os especialistas também suspeitam que a empresa tenha forçado nove dos seus trabalhadores que possuíam dosímetros (dispositivos de proteção que monitorizam a exposição humana à radiação) a não declarar os valores reais das leituras. Assim eles poderiam continuar em funcionamento mais tempo, mesmo após a colisão do tsunami.
No relatório, também o primeiro-ministro Naoto Kan e a sua equipe são criticados pelo envolvimento na gestão do acidente: “É preciso dizer que a intervenção direta [do governo] fez muito mais mal do que bem”.
O documento também lembrou que a Agência de Segurança Nuclear do Japão se opôs em 2006 a implementar um plano para reforçar a segurança das usinas do país.
Antes da tragédia e da suspensão das atividades nucleares, a energia nuclear era responsável por 30% do consumo de eletricidade no Japão.