Sob pressão do setor empresarial do México, o governo de Felipe Calderón lançou no começo de outubro do ano passado o primeiro programa para aliviar os efeitos da crise econômica, que, diga-se de passagem, negava-se a reconhecer. Na opinião da maioria dos especialistas, um programa extremamente fraco.
O Programa para Impulsionar o Crescimento e o Emprego (Pice) pretendia estimular a economia com recursos públicos equivalentes a cerca de 1% do PIB. O plano tem cinco metas: expandir e redistribuir as despesas públicas, basicamente para aumentar o gasto com infra-estrutura; incentivar o consumo; construir uma refinaria; implementar um programa especial de apoio às pequenas e médias empresas; e simplificar os procedimentos relativos ao comércio exterior e à inspeção aduaneira.
Mas os efeitos da crise não foram contidos e no início deste mês o presidente, respaldado por todo o seu gabinete, anunciou um segundo grande plano: o Acordo Nacional de Economia Doméstica e Emprego.
São 25 ações governamentais com as quais a administração Calderón pretende superar os efeitos da crise mundial. Destacam-se o congelamento do preço da gasolina e do gás natural pelo resto do ano; subsídio para as famílias mais pobres trocarem os aparelhos eletrônicos velhos por novos, reduzindo o consumo de energia; a redução das tarifas elétricas, industriais e comerciais em até 20%, como apoio às pequenas e médias empresas; e o compromisso de que ao menos 20% das compras realizadas pelo governo em 2009 advenham desse setor, além de um injeção adicional de 17 bilhões de pesos (R$ 283 milhões na Pemex (Petróleos Mexicanos) e da promessa de que Nafin e Bancomex – bancos de desenvolvimento do Estado mexicano – aumentem em 21% seus empréstimos.
No entanto, as medidas anunciadas com alarde pelo presidente mexicano são vistas com desconfiança e cautela pelos especialistas.
Para o doutor em economia pelo Itam (Instituto Tecnológico Autônomo do México), Mario di Costanzo, trata-se de um programa “demagógico, irreal e insuficiente” para suprir as maiores carências da unidade de produção do país e da economia das famílias.
“A estratégia congela o preço da gasolina, mas em um nível em que atualmente supera o que existe em outros paises do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, o preço da gasolina foi reduzido em quase 40%, enquanto no México aumentou 12% durante todo o ano de 2008. Essa estratégia também não contempla a redução nem o congelamento do preço do diesel, utilizado por setores produtivos como pesca e produtores agropecuários”, disse, em entrevista ao Opera Mundi.
Para Di Costanzo, que também trabalha como assessor em matéria econômica da Frente Ampla Progressista, encabeçada pelo ex-candidato presidencial Andrés Manuel López Obrador, o programa proposto por Calderón tem o defeito de não injetar recursos adicionais diretamente no orçamento. “A única novidade são os 17 bilhões de pesos (R$ 283 milhões) anunciados para a Pemex”.
Di Constanzo compara a economia mexicana ao Titanic: ”Estamos como o Titanic quando veio o iceberg: quando mandaram virar o timão, o dano era inevitável. Não vejo como reavivar a economia mexicana e me parece que o destino nos alcançou”.
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