João Ricardo Penteado/Opera Mundi
Messaoud Romdhani teme que nova Constituição esteja com excesso de preceitos religiosos
O que mudou na Tunísia, berço da Primavera Árabe, dois anos após a derrubada do ditador Zine El Abidine Ben Ali? Depois das eleições livres realizadas em outubro de 2011, que levaram o partido islâmico moderado Ennahda ao poder, os tunisianos passaram a ter maior liberdade, mas o governo pretende islamizar o Estado e levar o país de volta para a Idade Média.
Essa é a opinião do líder sindical e ativista de direitos humanos Messaoud Romdhani, que participou na noite desta terça-feira (29/01) de evento em São Paulo para promover o Fórum Social Mundial 2013, que acontecerá do dia 26 a 30 em Túnis. O sindicalista tunisiano teme a presença de muitos preceitos religiosos na nova Constituição do país, em elaboração.
“Há muitas lutas entre a sociedade civil tunisiana e o governo dominado pelo partido islamista, que tenta aplicar a sharia, e que quer acabar com muitos dos direitos conquistados pelas mulheres na sociedade. Mas as organizações seculares estão conseguindo fazer frente a essas pessoas que desejam levar o país de volta para Idade Média.”
Para Romdhani, houve poucas mudanças na Tunísia desde a queda de Bem Ali e o governo não se mostra interessado em resolver os problemas da população. No último ano, o preço dos alimentos disparou e a taxa de desemprego chegou a 17%.
“Não tem mudança econômica. O governo se mostra incompetente com muitas das questões levantadas pela revolução, como a igualdade e dignidade. Eles estão preocupados mais com questões que não têm a ver com as necessidades do povo, estão preocupados em como islamizar o país, em como aplicar a sharia”, disse.
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Romdhani também argumentou que, diferentemente do que muitos imaginam, a Tunísia segue vivenciando diversos protestos, assim como o Egito.
“As pessoas de muitas regiões da Tunísia estão desapontadas com o novo governo até agora. Pelo menos em seis ou sete regiões administrativas há a ocorrência constante de protestos, com ativistas sendo punidos com prisão. São protestos pacíficos, e que vão continuar, porque o atual governo não vai conseguir resolver os problemas da Tunísia.”
Questionado sobre os motivos de o país ter desencadeado a Primavera Árabe, o líder sindical lembrou de outros momentos de pioneirismo tunisiano.
“Não é estranho que a revolução tenha começado na Túnisia, um país com uma tradição de modernidade. Foi a Tunísia o primeiro país a ter constituição no mundo árabe ainda no século 19. Foi o primeiro a ter uma lei proibindo a poligamia, que deu direitos às mulheres, e o primeiro país a ter uma organização de direitos humanos em toda a África.”