Eles eram jovens, dinâmicos e, sobretudo, felizes por terem obrigado o general Augusto Pinochet a deixar a presidência em 1990, após 17 anos de ditadura. Socialistas, cristão-democratas, radicais e outros da esquerda decidiram esquecer as divergências políticas e unir esforços para conseguir uma saída institucional ao governo militar, por meio de um referendo. Vinte anos depois, os mesmos continuam à frente da coligação.
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“O problema desta geração de políticos é que ficaram fora do poder durante os anos da era Pinochet e agora não querem mais deixar espaço para outros, mais jovens”, explica ao Opera Mundi o deputado Felipe Harboe, membro do PPD (Partido pela Democracia) e candidato a deputado pela Concertação, em Santiago. Com 38 anos, uma barba impecável e olhos azuis penetrantes, ele faz parte destes novos líderes que não conseguem ter um peso dentro da coligação.
“Isso é o que explica o fenômeno MEO”, continua, em referência às iniciais do deputado Marco Enríquez-Ominami, que saiu da Concertação no começo do ano para ser candidato a presidente. “Os chefes da Concertação não queriam organizar primárias. Decidiram entre eles que o melhor candidato era Eduardo Frei. Isso abriu um espaço para a contestação, que MEO ocupou, mas podia ter sido qualquer um de nós”, completa Harboe.
Julio Queirlo/EFE (07/12/2009)
Enríquez-Ominami e a família participam de comício em Concepción, cidade a 500 quilômetros ao sul de Santiago
Para os jovens políticos da coligação de centro-esquerda, esta aliança forjada entre figuras da oposição à ditadura era justificada durante a primeira década no poder, especialmente até 1998, já que o general Pinochet tinha ficado como chefe das forças armadas. “Mas agora Pinochet está morto, temos que ter projetos para o futuro e nossos líderes não conseguem ter essa visão”, conclui impaciente o deputado do PPD. Ele considera que a Concertação sofre problemas similares aos do Partido Socialista Espanhol (PSOE) na época de Felipe González, quando ficou por 14 anos no poder (1982-1996).
Apesar de manifestar desencanto, Harboe decidiu ficar na Concertação e não seguir Enríquez-Ominami, que julga inexperiente. Ele sublinha os êxitos dos quatro governos que se sucederam desde a saída de Pinochet: diminuição forte da pobreza, abertura para o resto do mundo e restabelecimento da democracia. “Agora, faltam reformas de verdade, como da educação, ou do sistema eleitoral”, diz.
Sistema eleitoral
“Estamos pagando o preço da saída de Pinochet”, acrescenta um líder da coligação, pedindo anonimato. “Naquela época, aceitamos manter a constituição de Pinochet e principalmente este sistema eleitoral binominal muito pouco democrático”, afirma o político, que foi exilado durante a ditadura. O sistema assegura aos dois principais grupos, a Concertação e a Aliança pelo Chile – que reúne os partidos de direita –a quase totalidade dos cargos de deputados e senadores.
O sistema pensado por Pinochet garante a eleição de um numero mínimo de representantes conservadores, enquanto independentes não têm como ganhar. O partido comunista, que reúne um apoio importante junto à população (cerca de 8%) não consegue entrar no parlamento chileno.
“Sabemos que é pouco representativo, o problema é que os deputados, sejam de direita ou de esquerda, não querem mudar o sistema eleitoral, já que podem perder seus próprios mandatos”, explica o líder da Concertação, que denuncia a presença de senadores e deputados “há vinte anos” nas casas.
No Chile, a reeleição do presidente é proibida, mas os mandatos dos parlamentares não têm limite, apesar de haver muitos projetos de lei orientados nesse sentido. É uma outra herança da constituição Pinochet: todas as mudanças políticas importantes – como o sistema eleitoral ou a educação – requerem quoruns muito elevados, na assembléia e no senado, inalcançáveis por qualquer maioria.
Assista a um discurso de posse de Patricio Aylwin (1990-1994),
primeiro presidente da Concertação:
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