A chegada da ajuda humanitária ao Haiti é um mistura de habilidade com sorte. Nos primeiros cinco dias, os aviões que aterrissaram no país não tiveram nenhuma ajuda da torre de controle. Pousaram, literalmente, no “olhômetro”.
A torre não foi totalmente destruída, mas está numa situação tão precária que as autoridades haitianas optaram por fechá-la. Segundo o funcionário do aeroporto Maximilien Bernault, nos primeiros cinco dias aterrissaram uma média de dez voos diários de transporte e 30 de pequenos jatos executivos. “O aeroporto entrou em colapso. Tivemos de colocar os aviões em cima da grama em volta da pista”, contou ele ao Opera Mundi.
Por isso, no sábado, quando os haitianos passaram para os norte-americanos o controle operacional total do aeroporto, a primeira coisa que estes fizeram foi improvisar uma torre de controle no solo – o aeroporto tem só uma pista com uma visão de 360 graus – e retirar do aeroporto os aviões fora de operação.
“Havia aqui muitos aviões que só estavam ocupando espaço, sem nenhuma razão e apenas porque as organizações internacionais querem poupar dinheiro nos custos operacionais”, disse o tenente George Alvarez, um dos operadores da torre, montada sobre uma estrutura de aço que lembra guaritas de vigilância de presídios.
Muitos dos aviões foram enviados para aeroportos na República Dominicana, onde as autoridades se aproveitam da situação e cobram preços exorbitantes pelos direitos de pouso e estacionamento.
Agora, os aviões que chegam ao Haiti são colocados numa espécie de standby aéreo, pela qual a prioridade é dada aos cargueiros com ajuda humanitária e aos aviões oficiais. O resto tem de esperar ou voar para Baraona, cidade na Republica Dominicana a cerca de 100 quilômetros do Haiti.
Guantánamo
Quando um avião se aproxima do aeroporto de Porto Príncipe, a aproximação é realizada em coordenação com uma zona aérea especialmente criada para a ocasião, que depende da torre de controle da base norte-americana de Guantánamo, em Cuba.
Também a 100 quilômetros do Haiti, Guantánamo passa o controle do vôo para a “torre” improvisada de Porto Príncipe, que dirige a aproximação final.
“Uma de nossas maiores dificuldades foi o aumento dramático do tráfego aéreo nesta área. O Haiti normalmente recebia uma media de 10 voos diários. Agora estão entrando pelo menos 50”, explicou Alvarez.
Isto cria um caos nos céus do Caribe, porque o resto do tráfego comercial continua funcionando normalmente. “Não é que haja um risco de que os aviões se choquem no ar. Isso é mínimo. Mas, para os pilotos, é uma confusão adicional”, acrescentou.
Além disso, os aviões que transportam personalidades têm o que se chama de “prioridade 1”, o que obriga a desviar todos os outros que se encontram na mesma rota.
Por enquanto, não se prevê nenhuma diminuição no tráfego aéreo na região, tanto de entrada quanto de saída.
Repatriação
Na sexta-feira começou a repatriação dos cidadãos norte-americanos de origem haitiana que se concentram desesperados diante dos portões do aeroporto, em busca de um voo de volta para os Estados Unidos. Os voos de repatriação estão sendo realizados a bordo de aparelhos da guarda costeira ou da força aérea dos EUA, que chegam ao país com ajuda humanitária.
A operação é demorada porque os passageiros são submetidos a inúmeras revistas, já que as autoridades de imigração norte-americanas detectaram um mercado negro de passaportes e outros documentos.
Até domingo à tarde, já tinham sido repatriadas 2.315 pessoas. É possível que os voos de repatriação demorem ainda duas semanas.
Militares norte-americanos organizam a água que deve ser distribuída aos haitianos. Leia mais nos links abaixo
*Texto e foto. O repórter está a bordo do porta-aviões da marinha norte-americana USS Carl Vinson.
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