Quando Winston Spencer Churchill assume, em 13 de maio de 1940, o timão como o novo primeiro-ministro do Reino Unido, assegura ao Parlamento que “nessa crise espero que o Parliament House me perdoe por não estender-me por muito tempo hoje, na minha fala. Eu direi à Casa o mesmo que eu disse àqueles que integram este governo: ‘Eu nada tenho a oferecer-vos, senão sangue, sacrifício, suor e lágrimas’.
Temos diante de nós uma provação do tipo mais grave. Temos, diante de nós, muitos, muitos longos meses de lutas e de sofrimentos. Os senhores perguntam: qual é a nossa política. Eu respondo, é fazer a guerra por mar, terra e ar, com todo o nosso poderio e com toda a força que Deus nos conceda.
Fazer a guerra contra uma tirania monstruosa, jamais superada nas trevas do lamentável catálogo dos crimes contra o ser humano.
Os senhores perguntam qual é nosso objetivo. “Eu posso responder com uma só palavra: é a vitória, vitória a qualquer custo, vitória apesar de todo o terror, vitória por mais longos e duros que sejam os caminhos a trilhar; pois, sem vitória não há sobrevivência.”
Inglaterra declara guerra à Alemanha, dois dias depois da invasão da Polônia. Chamberlain capitula, convoca Churchill para ocupar o seu velho posto à frente do Almirantado.
Abril de 1940, os aliados não conseguem evitar a invasão da Dinamarca e da Noruega que controlam a saída da frota alemã pelo Báltico. Fracassam duas expedições anfíbias inglesas em Narvik e Trondheim, o fantasma de Galllipoli reaparece no Parlamento, desta vez o culpado pelo fiasco é Chamberlain. Maio, nova blitz alemã, caem Luxemburgo, Holanda, Bélgica e a Wehrmacht está diante da fronteira desguarnecida da França.
Chamberlain renuncia, ainda tenta indicar um sucessor que não seja Churchill. Inútil, o único político que merece a confiança dos trabalhistas — apesar do seu passado reacionário — é Churchill, comprometido vitalmente com a causa anti-hitlerista.
Winston Churchill
Estréia no Parlamento como Primeiro Ministro e inaugura o ciclo dos memoráveis discursos de guerra: “… Não tenho nada a oferecer-vos senão sangue, sacrifício, suor e lágrimas…”. O gabinete de coalizão, no qual exerce também a pasta da Defesa, inclui três trabalhistas, um deles é o poderoso líder sindical, Ernest Bevin. Fica garantido o esforço de guerra e a paz social. Leva ao Parlamento uma lei de emergência que coloca todas as pessoas, serviços e propriedades a serviço da Coroa. Puro socialismo. Mais tarde, escreveria em sua história da Segunda Guerra Mundial: “Na guerra, determinação; na derrota, resistência; na vitória, magnanimidade; na paz: boa-vontade.”
Dois dias depois da queda de Paris, a 16 de Junho de 1940, faz uma proposta audaciosa ao governo francês: a união política entre os dois países. A 22, os franceses capitulam no mesmo vagão em que os alemães haviam assinado a rendição em 1918. A máquina de guerra alemã agora está totalmente voltada contra a Inglaterra. Churchill no Parlamento: “estas são as nossas melhores horas”.
Cerco alemão cauteloso e inexorável: primeiro os aviões de Goering atacam as embarcações que cruzam a Mancha, depois as tropas ocupam as pequenas ilhas no meio do Canal, em seguida a Luftwaffe ataca as bases da Royal Air Force no sul da Inglaterra. Um ano depois de começada a guerra, os alemães começam os ataques maciços contra Londres. Churchill no Parlamento: “nunca, no campo das lutas humanas, tantos deveram tanto a tão poucos” – é o seu tributo aos pilotos dos Spitfires e Hurricanes.
Como represália, ordena uma incursão aérea a Berlim. Enfurecido com a audácia, o Führer determina maciços ataques diários a Londres. E dá início à Batalha do Atlântico para cortar todos os suprimentos da Inglaterra.
O ataque alemão à União Soviética leva-o a esquecer a velha rixa com o comunismo: “O perigo na Rússia é o nosso perigo”. Os isolacionistas americanos, insensíveis com o que se passa na Europa, insistem no slogan America First. “Dêem- nos as ferramentas e faremos o trabalho” pede Churchill. Concebe então o projeto da Grande Aliança com a URSS e os EUA do qual é o infatigável artífice. O primeiro passo é dado em Agosto de 1941 quando se encontra com Roosevelt nas costas do Canadá para assinar a Carta do Atlântico.
Vai duas vezes a Moscou, quatro a Washington, duas ao Cairo e Quebec, uma ao Marrocos, Grécia, Malta, participa das duas reuniões tripartites com Roosevelt e Stalin (Teerã e Ialta) e da derradeira, com Truman e Stalin em Potsdam (Alemanha) depois da rendição alemã.
Em 1942, Stalin reclama a imediata criação da 2ª frente na Europa para afrouxar a pressão germânica. Churchill considera o projeto prematuro, arriscado e, nas circunstâncias, custoso. Quando finalmente chega o Dia-D, em Junho de 1944, o septuagenário quer participar pessoalmente da operação a bordo de um cruzador inglês. Quem o dissuade é o próprio monarca.
Roosevelt morre 26 dias antes da rendição alemã. Churchill, privilegiado pelos fados, assiste ao entusiasmo do 8 de Maio, Dia da Vitória, e a 15 de Julho vai a Potsdam para as prolongadas negociações com Stalin e Truman sobre o futuro da Europa e do mundo.
Reunião interrompida pela convocação das eleições inglesas. Todos, inclusive Stalin, estão certo de que se encontrarão novamente no fim do mês. Engano: quem vai sentar-se para a foto de praxe é o trabalhista Clement Attlee, o grande vitorioso das eleições com o seu programa Vamos Enfrentar o Futuro.
Attlee entra e sai da História com a mesma rapidez. Churchill permanece: vive mais duas décadas, volta a chefiar o gabinete por mais quatro anos (aos 77), ganha os maiores galardões, inclusive um Nobel de literatura por sua História dos Povos de Língua Inglesa.
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