Vasectomias subsidiadas pelo governo e distribuição gratuita de camisinhas estão perto de virar história no Irã. O parlamento iraniano quer banir essas medidas, além de endurecer as leis sobre o aborto, para aumentar a população. O governo do ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad chegou a prometer moedas de ouro grátis para os casais que tivessem bebês.
Há duas décadas, o Irã mantém um efetivo programa de controle de natalidade, mas, no último ano, o líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, começou a criticar a política de contracepção vigente, descrevendo-a como imitação do estilo de vida ocidental.
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Segundo o aiatolá Ali Khamenei, de 74 anos, Irã será um país de idosos em pouco tempo se não mudar a política de contracepção
Além disso, ele instou o governo a combater o que acredita ser uma população envelhecida e a dobrar o número de iranianos, dos atuais 77 milhões para ao menos 150 milhões. “Se continuarmos assim, seremos um país de idosos em um futuro não muito distante”, Khamenei disse no último mês de outubro, de acordo com a agência Fars. Atualmente, 70% da população iraniana tem menos de 35 anos.
“Por que alguns [casais] preferem ter uma criança ou duas? Por que os homens e as mulheres estão evitando ter filhos de diferentes modos? As razões precisam ser estudadas. Não somos um país de 75 milhões, nós temos [a capacidade] de nos tornarmos pelo menos 150 milhões de pessoas, se não mais”, completou.
Na semana passada, o parlamento iraniano, dominado por políticos conservadores, votou por discutir o banimento das vasectomias e a punição para pessoas que incentivarem a contracepção e o aborto, segundo agências de notícias locais.
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O plano do governo iraniano de aumentar a população não é tão recente: em julho do ano passado, o parlamento aprovou uma lei que aumentou a licença-maternidade de seis para nove meses, além de dar aos pais uma dispensa de duas semanas do trabalho.
Problemas
Especialistas iranianos, entretanto, acham que reverter o programa de controle da natalidade não será tão simples, especialmente por conta de problemas na economia, afetada pelas sanções do ocidente e uma inflação de 36%.
“Uma moeda de ouro não vai mudar os cálculos dos casais”, afirmou Mohammad Jalal Abbasi, chefe do Departamento de Demografia da Universidade de Teerã, à agência AFP. “Muitos jovens iranianos preferem continuar seus estudos, não se casar. Falta de capacidade financeira para comprar uma casa e arcar com os gastos estão entre as outras razões para que os jovens adiem o casamento ou não tenham interesse em ter muitos filhos”.
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Especialistas dizem que economia e mudança na cultura familiar são principais razões para que iranianos tenham menos filhos
Além disso, o chefe das pesquisas demográficas e estatísticas do governo, Ali Akbar Mahzoon, diz que a cultura familiar do Irã mudou independentemente da capacidade financeira e da segurança no trabalho. Segundo ele, se antes os iranianos se casavam logo depois dos 20 anos, agora isso acontece quase os 30 e, enquanto 23 milhões de pessoas podem se casar no Irã, 11 milhões ainda não o fizeram.
“Pessoas ricas ou aquelas que têm um emprego estável também não têm muito interesse em ter mais de dois filhos”, diz Mahzoon. Ainda assim, ele acredita que maiores números de empregos e habitações serão ferramentas eficazes para aumentar as taxas de natalidade.
Depois da Revolução Islâmica de 1979, a população do Irã dobrou, chegando a quase 60 milhões, com uma taxa de natalidade de 3,6, uma das mais altas do mundo. O controle dos nascimentos passou a fazer parte da pauta do governo na década de 1990 e vem tendo sucesso até o momento.