O jornal português Diário de Notícias, um dos principais do país europeu, citou o Opera Mundi como fonte este fim de semana para admitir a fraude no caso do “restaurante canibal” noticiado pela mídia internacional como existente. A notícia, que se espalhou na Alemanha na última quinta-feira (26/8) e foi reproduzida por órgãos de imprensa de vários países, foi desmentida pelo site brasileiro no mesmo dia.
Em matéria publicada no sábado, assinada por Elisabete Silva, o jornal cita artigo de Breno Altman publicado na véspera e reconhece que o Opera Mundi “desmascarou” a montagem, cujos indícios sugerem ter sido provavelmente realizada por portugueses. Todas as pessoas que aparecem em vídeos divulgados na internet relacionados ao caso têm sotaque português.
“O embuste foi desmascarado por um site brasileiro que lança a suspeita de que os autores da falsa notícia são portugueses. No editorial do Opera Mundi pode-se ler que a ideia terá sido uma vingança 'das piadas contra os seus patrícios' e que 'resolveram armar pegadinha contra os brasileiros'”, diz o texto.
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Além disso, o Diário de Notícias entrevista um sociólogo para comentar o fenômeno. “Não é novo que exista quem divulgue notícias falsas, a diferença é que agora qualquer um o pode fazer, dada a facilidade de meios,” diz, antes de demonstrar pessimismo em relação ao comportamento da mídia. “Os procedimentos [de confirmação] internos das redacções devem ser mais sofisticados. Tem de haver prudência, principalmente em casos exóticos. Mas acredito que vai acontecer mais vezes”.
O Portal Imprensa, dedicado à cobertura do mercado jornalístico brasileiro, também mencionou o fato, destacando a reportagem do Opera Mundi.
Crédulos e céticos
Na quinta-feira, jornais, revistas e agências de notícias de diversos países da Europa e do mundo publicaram notas, com bastante credulidade, sobre um suposto restaurante chamado Flimé, em Rondônia, que serviria carne humana por ter pratos inspirados na gastronomia wari – uma tribo indígena que, de fato, praticava o canibalismo antes do contato com os colonizadores brancos. Um website escrito em alemão e português com ortografia de Portugal era citado, em que se pediam doações voluntárias de órgãos e anunciava a abertura de uma futura filial em Berlim.
Em entrevista ao tablóide berlinense Bild, um político local protestou contra a aceitação de um “restaurante canibal”, mas demonstrando ceticismo quanto à veracidade da história. Já a revista alemã Der Spiegel, o jornal inglês The Guardian e as agências Efe e ANSA passaram o boato adiante. Alguns deles citavam que haveria uma campanha publicitária do Flimé em curso na mídia convencional alemã, o que não ficou provado. No Brasil, o maior órgão de imprensa a dar crédito à informação foi a Folha de S.Paulo, tanto na versão online quanto na impressa.
Neste domingo (29/8), a ombudsman do jornal (profissional responsável pela autocrítica da redação), Suzana Singer, publicou nota em sua coluna comentando o fato e criticando a apuração do veículo.
No mesmo dia em que estourou o boato, reportagem do Opera Mundi reuniu os indícios de fraude, apontou que as imagens usadas nos vídeos são falsas (a Cinelândia, no Rio de Janeiro, é usada como se fosse Guajará-Mirim, em Rondônia) e descobriu que, no telefone indicado como correspondente ao local descrito no site, funciona uma agência do Bradesco.
Entretanto, outros veículos brasileiros também investigaram a história, entrevistando a Prefeitura de Guajará-Mirim e a Polícia Federal, que negaram a existência do restaurante e prometeram, ambas, investigar quem estaria por trás do boato. O jornal rondonense Correio Popular citou o comandante da PM local para afirmar que, no endereço divulgado, não há nada além de mata virgem (apesar de o telefone ser da agência). Também descobriram que o website do Flimé era sedidado na Inglaterra e conseguiram contactar o responsável, que se recusou a dar mais informações.
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