Grupos de familiares de desaparecidos e a Secretaria de Direitos Humanos da província de Buenos Aires denunciaram o envolvimento de dois juízes e ex-funcionários da Justiça argentina por participação em sequestro e adoção ilegal de Simón Riquelo. Durante a última ditadura do país (1976-1983), muitos filhos de presos políticos eram entregues a militares ou a simpatizantes do regime. Estima-se que 500 crianças foram separadas dos pais na Argentina naquele período.
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A denúncia é contra os juizes Wagner Gustavo Mitchell e José Martínez Sobrino. Sobrino, na época, secretário de Mitchell, agora pertence ao Tribunal Oral Federal, onde trabalha com julgamento de crimes cometidos durante a ditadura – entre eles, a adoção de Simón Riquelo.
Mitchell, que foi titular de um Juizado de Menores, é acusado de ter entregado Simón Riquelo ao militar Osvaldo Parodi. Recentemente, o nome de Mitchell apareceu na imprensa por conta de um tema também relacionado à ditadura. Ele ordenou a suspensão dos exames de DNA que poderiam determinar se foram adotados ilegalmente os filhos de Ernestina de Noble, dona do grupo Clarín.
O caso Simón Riquelo
Em 2002, após anos de busca, Sara Méndez encontrou o filho Simón Riquelo. Na noite de 13 de julho de 1976, quando ele tinha apenas 22 dias de vida, os dois foram separados. Sara foi sequestrada e levada à prisão clandestina Automotores Orletti, na cidade de Buenos Aires. Riquelo foi entregue, horas depois, a Osvaldo Parodi.
Sara e Mauricio Gatti, pai de Riquelo, eram uruguaios, membros da então ilegal FAU (Federação Anarquista do Uruguai) e militantes do Partido pela Vitória do Povo. Com a instauração da ditadura no Uruguai (1973-1985), os dois foram para Buenos Aires. Não junto com Sara, Gatti também foi sequestrado naquela época. Ele faleceu em 1991 por conta de um ataque cardíaco. Ela, por meio da Operação Condor, foi transferida da Orletti para Montevidéu, capital do Uruguai, e condenada a cinco anos de prisão pela Justiça Militar.
Em 2002, Sara soube o paradeiro de Riquelo, mas não sabia quem eram os responsáveis pela adoção ilegal de seu filho. A denúncia do envolvimento dos juízes foi encaminhada ao promotor geral Esteban Righi. Citado pela agência de notícias estatal argentina, Telám, ele afirma que o caso é grave não apenas pelo crime cometido na época, mas também pelo envolvimento dos juízes com investigações de violações das quais são acusados.
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