Tudo começou com o desaparecimento de Laetitia Perrais, de 18 anos, da localidade de Pornic, na região Loire Atlantique (oeste). Após dias de busca, seu corpo foi encontrado esquartejado, no fundo de um lago. Segundo a polícia, a jovem foi estuprada antes de ser assassinada. O principal suspeito é Tony Meilhon, de 31 anos. Ele já foi condenado 15 vezes por atos de violência, roubo e uso de drogas e havia sido solto em fevereiro de 2010, após cumprir 11 anos de pena.
Na opinião do presidente Nicolas Sarkozy, o fato de o suspeito ser um condenado reincidente prova a responsabilidade do sistema judiciário na tragédia, que emocionou a França. Na semana passada, Sarkozy apontou “graves erros” na polícia e na Justiça. “Libertar um indivíduo que se presume culpado, sem a certeza de que um assistente social irá atendê-lo, é um erro”, afirmou o presidente. “Quem acobertou ou permitiu que esse erro acontecesse será punido, essa é a regra”, concluiu.
As declarações provocaram a ira imediata do Judiciário e de algumas divisões da polícia na França, que acusaram o presidente de escolhê-los como “bodes expiatórios”. Segundo eles, é uma estratégia populista de Sarkozy para ganhar apoio na opinião pública, já que sua popularidade está muito baixa, um ano antes da eleição presidencial. Eles disseram que a falta de fundos é a aior responsável pelos erros.
Leia mais:
Uma nova verdade desponta no mundo árabe
Carla Bruni-Sarkozy “não se sente mais de esquerda”
França começa perseguição a downloads ilegais na internet
“Política migratória europeia é uma farsa”, denuncia especialista espanhol
Perto de Paris, “aldeia gaulesa” completa 85 anos de governos comunistas
Crise da moradia na França deixou cerca de 8 milhões em condições indignas ou precárias
Operação-padrão
Em reação, centenas de juízes, convocados pela União Sindical de Magistrados (USM), iniciaram nesta semana uma revolta contra Sarkozy. Eles cancelaram todas as atividades não essenciais nos tribunais, montando uma espécie de “operação-padrão”, já que greves do Judiciário são proibidas. O movimento, iniciado nesta segunda-feira (07/02), deve ser mantido pelo menos até quinta-feira (10/02), quando haverá uma manifestação na cidade de Nantes, onde vivia a jovem Laetitia Perrais.
Além disso, dezenas de assembléias gerais foram realizadas em todo o país para organizar novas ações de protesto. “É uma mobilização sem precedentes”, afirmou Virginie Valton, a vice-presidente da USM. O primeiro-ministro François Fillon convocou uma entrevista coletiva para denunciar a reação “excessiva” de centenas de juízes, oficiais de justiça e outros funcionários.
A tensão entre juízes e Sarkozy não é recente e foi iniciada quando o atual presidente ocupava o cargo de ministro do Interior, durante o segundo mandato do presidente Jacques Chirac (2002-2007). Naquela época, Sarkozy, cujo apelido era “premier flic de France” (primeiro tira da França), atacava o “laxismo” dos juízes, defendendo a atuação às vezes violenta da polícia. Sua atuação incentivou a adoção de uma legislação mais repressiva, especialmente em relação aos estrangeiros, os jovens e os mais pobres. Algumas das novas leis acabaram sendo inaplicáveis, como a proibição de reunião de grupos de jovens nos corredores dos prédios.
Siga o Opera Mundi no Twitter
Conheça nossa página no Facebook
NULL
NULL
NULL