A Justiça argentina ordenou, nesta quinta-feira (29/12), a reabertura da investigação iniciada pelo promotor Alberto Nisman — que morreu em janeiro de 2015 em condições ainda não esclarecidas — contra a ex-presidente Cristina Kirchner, acusada de ter acobertado o suposto papel do Irã no atentado contra uma entidade judaica em 1994 e que deixou 85 pessoas mortas em Buenos Aires.
Em fevereiro de 2015, o juiz Daniel Rafecas rejeitou abrir investigação com base nas acusações de Nisman: “os indícios colhidos estão longe de cumprir os critérios mínimos”, informou a justiça argentina à época.
Agora, a Sala I da Câmara de Cassação Penal ordenou a reversão da decisão de Rafecas, aceitando o recurso apresentado pela Daia (Delegação de Associações Israelitas Argentinas), o braço político da comunidade judaica local, que questionava a decisão de Rafecas. Assim, deverá ser ordenado, por sorteio, um novo juiz que investigue a denúncia feita por Nisman.
Agência Efe
No início da semana, Cristina foi processada por corrupção em caso de irregularidade em concessão de obra pública
A denúncia
No dia 14 de janeiro de 2015, Nisman denunciou a existência de um suposto plano levado a cabo pelo governo argentino para encobrir e deixar impune cidadãos iranianos investigados pelo ataque à Amia (Associação Mutual Israelense Argentina) em 18 de julho de 1994.
De acordo com a denúncia, a mandatária argentina teria emitido uma diretiva com esse objetivo para produzir uma aproximação geopolítica com a República Islâmica do Irã, bem como restabelecer as relações comerciais com o país para resolver a crise energética nacional. Em troca, ela venderia grãos e compraria petróleo.
Tal acordo teria sido realizado pelo ex-chanceler Héctor Timerman e demorado dois anos para ser concluído. Neste período, as autoridades argentinas teriam deixado de lado as reclamações pelo caso Amia e concordado em baixar as notificações vermelhas da Interpol sobre os suspeitos de praticar o atentado que matou 85 pessoas.
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Nisman sustentava que o “memorando de entendimento” assinado entre os governos em 2013 teria o objetivo de garantir a impunidade dos iranianos diante dos resultados da “Comissão da Verdade”, uma vez que estes já estariam pactuados previamente.
Tal comissão daria espaço para uma nova hipótese, falsa, que, baseada em provas inventadas, substituiria as acusações sustentadas pela pesquisa judicial.
Cristina negou reiteradas vezes tais afirmações. Segundo a mandatária, o país nunca comprou petróleo do Irã e empresas privadas comercializam grãos com o Irã sem intervenção governamental.
Entenda o caso
O atentado à AMIA, em 1994, foi o maior ato terrorista já realizado na Argentina, matando 85 pessoas.
Em 2006, uma decisão da Justiça do país sul-americano considerou o governo iraniano culpado de ter planejado o atentado, que teria sido executado pelo grupo libanês Hezbollah, com ajuda do Irã, que nega as acusações.
Desde 2004, Alberto Nisman era o promotor responsável por investigar o atentado. Ele foi encontrado morto, com um tiro na cabeça, dentro do banheiro de seu apartamento no bairro portenho de Puerto Madero em 18 de janeiro de 2015.