Enquanto manifestantes palestinos e soldados israelenses se enfrentavam em Jerusalém Oriental hoje (16), o presidente Luis Inácio Lula da Silva encontrou-se com o colega palestino, Mahmoud Abbas, e anunciou a realização de uma conferência, no Brasil, para arrecadar fundos para a criação de um Estado palestino.
Depois de sair de Israel, a comitiva brasileira seguiu para a Cisjordânia, onde Lula se reuniu com o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, tornando-se o primeiro presidente brasileiro a visitar os territórios palestinos. À noite, Lula e Abbas têm um jantar em Belém.
Na mesma cidade, o presidente brasileiro participou também do encerramento do seminário empresarial Brasil-Palestina, que tem como principal objetivo estreitar relações comerciais. Recebido pelo primeiro-ministro palestino, Salam Fayad, Lula foi aplaudido pela platéia ao falar sobre importância de fortalecer o comércio com países do Oriente Médio.
“O desafio é vencer o bloqueio que sofre o povo palestino”, disse Lula em discurso, defendendo o estabelecimento de acordos entre o Mercosul e a ANP para dar uma “nova fronteira” aos produtos da região, segundo a conta twitter do Blog do Planalto.
Além disso, segundo a agência de notícias italiana Ansa, o presidente anunciou a realização de uma conferência no Brasil ainda este ano com o objetivo de arrecadar fundos para a criação do Estado palestino, defendida desde o início da viagem.
Fayad agradeceu o gesto de solidariedade do brasileiro e garantiu que, “sem restrições físicas e funcionais, como as impostas por Israel, economia palestina tem grande potencial”.
Recepção calorosa
Além do primeiro-ministro, segundo o blog, “toda a nação palestina demonstrou orgulho por recepcionar o presidente brasileiro”, já que ele foi o primeiro visitante estrangeiro a pernoitar na região da Cisjordânia.
De acordo com a jornalista brasileira Guila Flint, o Brasil nunca foi tão bem recebido na região. “Depois de viver muito anos aqui, nunca vi o Brasil ser tratado com tanto respeito”, disse ela em entrevista à rádio CBN, hoje de manhã.
A jornalista, correspondente da rede britânica BBC em Israel e nos territórios palestinos desde 1997, tratou também da cobertura da mídia sobre a visita de Lula. Para ela, o balanço foi extremamente positivo, tanto em Israel quanto nos territórios palestinos. “A repercussão está sendo bastante grande tanto na mídia eletrônica quanto na mídia impressa. Houve várias reportagens, sendo a maior parte delas favorável ao presidente Lula”, destacou.
Holocausto
Ainda em Israel, o presidente brasileiro começou o dia com uma visita ao Museu do Holocausto acompanhado pela primeira dama, Mariza Letícia, ministros, empresários e do rabino-chefe de Tel-Aviv e também presidente do Yad Vashem (memorial das vítimas do Holocausto), Israel Meir Lau.
Usando um solidéu na cabeça, Lula ouviu as as explicações do guia local, que contou algumas das histórias de horror vividas pelos judeus da Europa durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Em seguida, o presidente afirmou que, assim como a escravidão nas Américas, o Holocausto foi um dos maiores crimes da humanidade.
“Levo ao Brasil a certeza do que pode acontecer quando a irracionalidade toma conta do ser humano. Não podemos permitir que se repita algo como o Holocausto. E temos que repetir quantas vezes for necessário: ‘nunca mais, nunca mais’”, disse.
Depois, Lau pediu a Lula que ajude a organizar um encontro dele com Mahmoud Ahmadinejad, com a intenção de
convencer o presidente do Irã de que o extermínio de judeus pelos
nazistas de fato ocorreu.
Ainda em Jerusalém, o presidente brasileiro se encontrou com os promotores da Iniciativa da Paz de Genebra, com um grupo de parentes israelenses e palestinos de vítimas da Segunda Guerra e com representantes da ONG Passia.
Reprovação
Durante a visita, apenas uma entidade se manifestou reprovando as atitudes de Lula. A ONG palestina Stop the Wall divulgou comunicado condenando os acordos bilaterais entre Brasil e Israel, e pediu ao presidente que corte relações militares e comerciais com o Estado judeu.
“É inaceitável estabelecer acordos comerciais com um país cujas empresas se beneficiam intrinsecamente dos assentamentos e da ocupação”, critica o coordenador da iniciativa, Jamal Juma. Para ele, é surpreendente “ver como o Brasil recompensa essas empresas que constroem o muro e as armas que matam a gente, com mais e mais acordos de armas”.
No documento, a ONG pede o fim do tratado de livre comércio entre o Mercosul e Israel, que entrará em vigor no próximo dia 4 de abril, além de um embargo de armas e o boicote a produtos que sejam fabricados nos assentamentos judaicos nos territórios ocupados.
“O Brasil deverá decidir entre negociar com Israel e suas armas ou posicionar-se ao lado do povo palestino, dos direitos humanos, da democracia e cortar as relações militares com Israel”, conclui Juma.
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