No documentário-reality show “Sarah Palin's Alaska” (O Alasca de Sarah Palin), mãe e filha saem juntas para pescar. Prestes a encarar peixões de mais de um metro de comprimento no convés do barco, Sarah estende um porrete para Bristol e ordena: “Bata na cabeça do peixe”. O primeiro que é fisgado é jogado no chão, diante dela. Bristol não tem coragem de acertá-lo e devolve o bastão para a mãe, que enche a primeira vítima de pancadas “para evitar danos ao barco”. Mas outros peixes são capturados e Bristol logo se sente à vontade para dar pancadas mortais também. “Estou muito orgulhosa dela”, diz Sarah sobre o desempenho da filha.
ABC/ADAM LARKEY
Apesar de ter o desempenho detonado pelo juízes, Bristol ficou em terceiro no programa “Dancing with the stars”
No programa de nove episódios, que foi ao ar entre novembro do ano passado e janeiro deste ano no canal a cabo TLC (The Learning Channel), é evidente a sintonia entre mãe e filha. Mas nem sempre foi assim. Ex-governadora do Alasca e candidata a vice-presidente de John McCain em 2008, Sarah anunciou a gravidez da filha em plena Convenção Republicana, durante a campanha. Bristol era uma adolescente de 17 anos e engravidara do namorado da escola.
A gravidez da menina, que na época amedrontou os republicanos, pode ter um saldo positivo agora, que Bristol tem 20 anos. Prestes a publicar um livro de memórias pela mesma editora da mãe, HarperCollins, Bristol saiu da casa dos pais, ganha seu próprio dinheiro, cria o filho sozinha e já avisou que vai seguir os passos da mãe e entrar para a política mais cedo ou mais tarde.
Se depender do movimento Tea Party, ela vai entrar muito mais cedo do que se poderia imaginar. Eles querem que Bristol seja a porta-voz entre os eleitores jovens na campanha de Sarah Palin para as primárias do Partido Republicano – o anúncio oficial da candidatura à presidência dos Estados Unidos deve acontecer durante o verão no Hemisfério Norte. “Nós acreditamos que Bristol Palin tem uma voz muito potente entre adolescentes e jovens adultos norte-americanos. Ela trabalha duro, tem raciocínio rápido e é uma menina adorável”, disse o diretor do Tea Party Express, Levi Russell.
A popularidade de Bristol foi testada e aprovada no fim do ano passado, quando ela participou do reality show de maior audiência do país, “Dancing with the stars”, da rede ABC. Apesar de ter sido detonada pelos jurados em todas as rodadas, Bristol recebeu votos suficientes dos telespectadores para chegar à final, terminando em terceiro lugar. Diversos sites do Tea Party fizeram campanha e deram instruções de como votar em Bristol vencer durante os três meses do programa. Fã do reality show, o locutor de rádio Howard Stern ficou revoltado e desabafou em seu programa: “Bristol é a pior dançarina da história. Se ela vencer, eu deixo a América. (…) Ela é a primeira competidora do 'Dancing with the stars' a engordar durante o show. Isso é tarefa quase impossível. Ela deve estar comendo tudo o que aparece em sua frente.”
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O sucesso de Bristol fez com que fãs do programa questionassem a credibilidade da votação em blogs e twitters sobre o programa. Quando ela passou para a final com recorde de audiência e votos, um homem, no estado de Wisconsin, chegou a atirar contra a própria TV. Antes da final, uma repórter da ABC perguntou como Bristol se sentiria se vencesse. “Seria como mostrar o dedo do meio para todas as pessoas que odeiam minha mãe e me odeiam”, baixou o nível, em rede nacional. Também em 2010, Bristol fez uma participação como ela mesma na série da ABC “A vida secreta de uma adolescente norte-americana”, que é transmitida pelo canal Boomerang no Brasil.
Abstinência sexual
Na semana passada, ela voltou a causar polêmica. Uma agência de notícias revelou que Bristol recebeu 262,5 mil dólares, em 2009, da organização sem fins lucrativos The Candie's Foundation. O trabalho dela é participar de campanhas e dar palestras sobre como evitar a gravidez na adolescência com abstinência sexual. “Embaixadora da fundação desde 2009, Bristol tem o importante papel de ajudar outras adolescentes a entender os incríveis desafios que pais adolescentes encaram, e encorajá-los a esperar até que sejam social e financeiramente independentes para começar suas famílias”, afirma o site da Candie's. Bristol recebe de 15 mil a 30 mil dólares por palestra.
“Eu devia ter parido um filho quando era adolescente”, ironizou em seu twitter o diretor de mídias sociais Ryan J. Davis. Ele trabalha para a empresa de marketing viral Blue State Digital, que teve importante papel nas vitórias de duas campanhas presidenciais recentes: a de Barack Obama, nos EUA, e a de Dilma Rousseff, no Brasil.
Candie's Foundation/Divulgação
Grávida aos 17 anos do namorado, Bristol hoje prega a abstinência sexual como contraceptivo
“O resultado do 'Dancing with the Stars' só reforça a ideia de que a família Palin não tem nada além de estrelas de reality shows da TV”, desdenha Davis, que não acredita que Bristol possa ajudar muito na campanha da mãe dela: “Sarah só é popular entre conservadores e evangélicos. E estes grupos não têm muitos representantes entre os eleitores abaixo de 25 anos”.
Para o jornalista Ben Smith, que cobre campanhas presidenciais para o jornal The Politico, Bristol deve ajudar de outra maneira. Segundo ele, Sarah estaria querendo basear sua campanha num estado diferente do distante – cultural e geograficamente – Alasca. “A campanha de Sarah Palin deve ser baseada em Scottsdale, Arizona, bem perto de Maricopa, onde Bristol Palin recentemente comprou uma casa”.
Bristol hoje mora em Maricopa com o filho Tripp, de dois anos. Comprada por ela no ano passado por 172 mil dólares, a casa tem cinco quartos e foi mostrada com exclusividade pelo canal de celebridades E!. Na ocasião, Bristol falou sobre o relacionamento com o pai do menino, Levi Johnston, que terminou depois de o casal anunciar o noivado duas vezes. Nos últimos anos, ele posou nu para a revista Playgirl, falou mal da sogra na imprensa e brigou na justiça pela custódia do filho.
Nas palestras para adolescentes, Bristol conta que anunciar para a mãe que estava grávida de Levi foi “mais difícil do que o próprio parto”. Para a repórter do E!, ela disse que o novo namorado, Giacinto Paoletti, é um amigo de muitos anos, evangélico como ela e querido pelos Palins. Sobre ele ter namorado a irmã de Levi, usado palavras racistas e debochado de pessoas com síndrome de Down em seu perfil no site Facebook, ela não se manifestou.
Sarah e Bristol Palin espancam peixes no Alaska:
Autobiografia
A próxima polêmica está marcada para 21 de junho. É quando chega às lojas a autobiografia de Bristol, Not afraid of life (Sem medo da vida). A autobiografia de Sarah Palin, Going rogue: an american life (Rebelando-se: uma vida americana), virou best-seller um mês e meio antes do lançamento, graças à pré-venda nos sites da Amazon.com e Barnes & Noble. Na lista de best-sellers do jornal The New York Times, a de maior credibilidade do país, o livro ficou seis semanas consecutivas na liderança. Mais de quatro milhões de cópias do livro foram vendidas. Não é de se estranhar que a editora aposte alto e prepare um lançamento de estrela para Bristol Palin.
Se a filha vai repetir os passos da mãe no mercado editorial e vender milhões, ninguém sabe. Se Sarah vai repetir os passos de dançarina de Bristol nas eleições e virar uma ameaça aos melhores candidatos, impossível saber agora. Mas a sintonia das duas é inegável. De volta ao reality show familiar, depois de matar os peixes, a mãe traz na mão o coração de um dos peixes para mostrar à filha. Ele ainda pulsa. Bristol faz cara feia: “Isso é nojento”. Sarah concorda com sua aprendiz de marinheira-pescadora-política. “É a coisa mais estranha que vi na vida”, diz, atirando o coração no mar.
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