Nos últimos meses a Argentina tem sido palco de manifestações da Comunidade Homossexual. Passado pouco mais de um ano do assassinato de Natalia Gaitán, o povo argentino sai às ruas para pedir justiça e relembrar o crime que tornou-se um dos símbolos da luta homossexual no país. Natalia Gaitán, 27 anos, residente da cidade de Córdoba, foi morta a tiros por Daniel Torres, padrasto de sua namorada. Ele se opunha ao relacionamento das duas e, após uma discussão, a assassinou.
O crime aconteceu em 6 de março de 2010, no bairro Parque Liceu, onde Natalia vivia com a namorada. Daniel assumiu o crime e se entregou à polícia. Em prisão preventiva, aguarda julgamento e pode ser condenado a 33 anos de prisão por homicídio doloso. De acordo com a lei 23.592, que prevê a Penalização Contra Atos Discriminatórios, só podem ser agravadas penas decorrentes de discriminação de raça, nacionalidade, religião, sexo, ideologia, opinião política, sexo, posição econômica, condição social ou caracteres físicos, não abrangendo a questão da discriminação social.
Convocados pela Comunidade Homossexual Argentina e associações locais, mais de duas mil pessoas se reuniram em cidades como Buenos Aires, Córdoba, Tucumán, Puerto Madryn e Paraná, e reivindicam igualdade de direitos aos homossexuais, conscientização e justiça.
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Na cidade de Paraná, capital da província de Entre Ríos, a manifestação reuniu mais de 400 pessoas na Praça das Nações, um dos principais pontos da cidade. O encontro contou com atrações culturais e discursos que se estenderam por todo o dia. “Depois da lei que permite o casamento entre gays, algumas pessoas começaram a se conscientizar de que a homossexualidade não é nenhuma doença. Precisamos continuar lutando para que mais pessoas criem essa consciência e para que crimes como esse não voltem a acontecer”, afirma Soledad Henares , membro do Foro de Diversidad Sexual de Entre Ríos, uma das associações organizadoras do evento.
Outros dois casos recentes também são motivo de manifestações na província de Entre Rios: dois homens foram expulsos por se beijarem em um bar em Paraná e um grupo de quatro homossexuais foi proibido de entrar em um pub na cidade de Concordia. “Temos que ficar atentos ao preconceito, porque a homofobia pode começar com a expulsão de locais privados e chegar a um assassinato”, afirma Soledad.
Daniela Penha
Manifestações em memória de Natalia Gaitán ocorreram nas principais cidades argentinas.
A opinião é a mesma de Florencia Fernandez. Há um ano em um relacionamento estável com outra mulher, a estudante de 24 anos defende suas ideologias: “Para que haja mudança social é preciso tempo e muita força. Quando nos manifestamos, mostramos para a sociedade que existimos”.
Casamento
Entre os presentes ao manifesto de Natalia Gaitán em Paraná estavam as parceiras Paola Relea, 29 anos, e Cláudia Gimenez, 34, que protagonizaram em 2010 o primeiro casamento gay da cidade de Paraná.
Além disso, elas afirmam ser o primeiro casal homossexual feminino da Argentina a registrar um bebê. Bianca Juliana Relea Gimenez, de quatro meses, foi concebida por Paola, mas também leva em sua certidão de nascimento o sobrenome de Claudia. “A Bianca vai crescer sabendo de toda a verdade e convivendo com a realidade. Se ela quiser conhecer o pai biológico, poderá”, explica Paola.
A Argentina foi o primeiro país da América Latina a oficializar o casamento gay, em julho de 2010. A controversa medida foi aprovada pelo Senado com 33 votos favoráveis e 27 contrários.
Daniela Penha
Claudia Gimenez e Bianca, casadas e mães de Bianca, de apenas quatro meses.
A brasileira Melissa Osterlund, que também esteve presente na manifestação em Paraná, admira o exemplo argentino. “A sociedade já obteve muitas conquistas ao longo das décadas, mas ainda tem muitas outras a realizar. A igualdade de direitos é o primeiro passo”, comenta.
Homenagens
Três cidades argentinas oficializaram o dia 7 de março como Dia de Municipal Contra Lesbofobia. A medida é um pedido do Movimento Lésbico Feminista Argentino que, ao escolher a data de 7 de março, também presta uma homenagem a Natalia. A Comissão de Direitos Humanos das cidades de Córdoba, Vila Carlos Pas e Rosário foram as primeiras a aprovar o projeto de lei que, segundo o Movimento, vai se espalhar por toda a Argentina.
Outra homenagem de grande impacto foi motivo de divergência em Rosário. Um mural pintado pela Asociaciones Cultura en Movimiento e pelo movimento lésbico Las Safinas no dia 7 de março foi apagado apenas dez dias depois. O paredão, que retratava a união entre duas mulheres foi pintado de branco em repúdio ao movimento.
A atitude causou revolta aos manifestantes favoráveis. “A pintura é um trabalho contra a lesbofobia e isso não pode ficar assim”, declarou a coordenadora da Área da Diversidade Sexual, Noelia Casati, à agência de notícias argentina Sentido G. “Para cada muro apagado, pintaremos outros dez”, garantiu Casati.
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