Os protestos no Egito contra o presidente do país, Hosni Mubarak, chegam nesta terça-feira (08/02) ao seu 15° dia consecutivo sem sinais de enfraquecimento. Estimulados pelo clima pacífico dos protestos nos últimos dias e pela libertação do executivo do Google, Wael Ghonim, que ficou preso durante 12 dias por “ativismo pela internet”, os manifestantes voltaram a se reunir na praça Tahrir, ignorando as novas propostas feitas pelo governo. De acordo com a agência de notícias espanhola Efe, a multidão reunida nesta terça-feira era similar à dos dias que registraram centenas de milhares de pessoas.
A manifestação foi convocada para as 14h do horário local (10h do horário de Brasília), mas uma hora depois ainda se registravam pessoas chegando à praça, em um ambiente festivo e cantando palavras de ordem contra o regime. Os manifestantes se reuniram em zonas divisórias à praça Tahrir, embora próximo do limite norte desse local lugar estejam centenas de partidários de Mubarak que se mantêm separados do resto da multidão. No entanto, a terça-feira não registrou tumultos.
Esta é a primeira manifestação em massa depois do início do diálogo entre representantes do regime e a oposição, no domingo (06/02), em uma tentativa das autoridades para orientar a população que permaneça em suas casas. Nem mesmo o anúncio do governo sobre o início do processo de transição, com a instalação de duas comissões que vão colocar em prática os acordos fechados com a oposição e tratar de mudanças constitucionais, desacelerou as manifestações. Nesta terça-feira, o vice-presidente Omar Suleiman anunciou que haverá um cronograma a ser seguido para dar início ao processo de transição.
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“Chegamos a um consenso com o diálogo em nível nacional. Um cronograma claro será anunciado para a transição pacífica”, disse Suleiman, que foi nomeado por Mubarak o mediador das negociações com a oposição. “O presidente [Mubarak] decidiu formar um comitê constitucional para examinar as emendas constitucionais que vêm sendo solicitadas”, afirmou.
Suleiman afirma que, “com diálogo”, é possível encerrar a onda de protestos no país. “O presidente vê com bons olhos essa harmonia e acredita que ela nos coloca no caminho para sair da atual crise”, disse. No início da crise, Suleiman foi nomeado vice-presidente por Mubarak, o que segundo analistas foi uma medida adotada para apaziguar os ânimos dos manifestantes.
No entanto, os manifestantes reafirmam que vão permanecer nas ruas até que Mubarak deixe o cargo, uma exigência antiga feita durante os protestos, mas que foi rejeitada pelo governo. Agora, esquerdistas, islamistas e apartidários se reúnem para pressionar o presidente egípcio. Nesta manhã, até mesmo o ex-ministro dos Transportes, Essam Sharaf aderiu aos protestos, liderando uma passeata na praça Tahrir.
Libertações
Nesta terça-feira, além de Wael Ghonim, as autoridades egípcias libertaram de 34 militantes, supostamente de grupos islâmicos que se entregaram depois de fugir da prisão durante os protestos populares, informaram fontes oficiais.
A libertação dos presos foi ordenada pelo novo ministro do Interior, Mahmoud Wahdy, segundo a agência oficial de notícias Mena.
Durante os protestos e enfrentamentos registrados na semana passada em diversas partes do país, cerca de 17 mil presos fugiram depois que as prisões ficaram sem vigilância pela retirada das forças policiais.
Mortes
Também nesta terça-feira,a organização não governamental Human Rights Watch (HRW), denunciou que o governo Mubarak, por meio do Serviço de Saúde, oculta o número de mortos e feridos nos conflitos registrados no país.
Segundo dados da organizações, ao menos 297 pessoas morreram no Egito desde o dia 28 de janeiro em meio as revoltas populares. A pesquisadora da HRW Heba Morayef afirmou que ao menos 232 pessoas morreram no Cairo, 52 na cidade de Alexandria e 13 em Suez, no leste do país. As informações, segundo ela, foram obtidas em fontes como hospitais e necrotérios.
Para Morayef, a principal causa das mortes é violência utilizada pela polícia durante as últimas duas semanas contra os manifestantes.
Já a alta comissária da ONU (Organização das Nações Unidas) para os Direitos Humanos, Navi Pillay, disse estar “profundamente alarmada” pelo número de vítimas nos protestos, em comunicado feito em Genebra, em 1° de fevereiro.
“As vítimas foram aumentando diariamente, com informações não confirmadas que sugerem que até 300 pessoas poderiam ter morrido, que há mais de 3 mil feridos e centenas de detidos”, disse Pillay.
Até o momento, não se sabe o número exato de vítimas no Egito desde o início dos protestos, no último dia 25, já que as autoridades não oficializaram os registros, apenas informaram que o número de feridos era de 5 mil.
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