Cerca de 500 pessoas se manifestaram nesta terça-feira (18/06) em Buenos Aires em apoio aos protestos das últimas semanas em várias cidades brasileiras. Com cartazes e demandas diversas, o grupo fechou no final da tarde a 9 de Julho, principal avenida da cidade, na altura do Obelisco e marchou um quilômetro até a Embaixada do Brasil, onde entregou uma carta ao ministro conselheiro Julio Bitelli.
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Manifestantes brasileiro se concentraram no Obelisco, no centro de Buenos Aires
O documento, escrito por um grupo de manifestantes que se reuniu durante a última semana, expressou apoio ao MPL (Movimento Passe Livre) e repudiou a ação da Polícia Militar. “Essa violência foi maracada pelo uso abusivo das armas 'não-letais' (…) A repressão, somada à negligência do Estado, teve o efeito de fortalecer o movimento, que tomou proporções inimagináveis e hoje transcende as fronteiras nacionais”, diz a carta aberta, que foi lida em frente à Embaixada brasileira.
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Três representantes foram indicados pelos manifestantes para entrar na embaixada e entregar o documento a Bitelli. Após recebê-los, o ministro conversou com o grupo na porta da representação brasileira na Argentina e afirmou que a carta será enviada a Brasília “contando o que aconteceu aqui, o número de pessoas e as reivindicações. O documento na íntegra, com as assinaturas de vocês, vai seguir para o Itamaraty e para o governo brasileiro. A embaixada aqui está aberta para receber os representantes de vocês, ouvir o que vocês têm a dizer e transmitir. Essa é a nossa função.”
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Em frente à embaixada, manifestantes leem carta de apoio a protestos no Brasil
Sem bandeiras
Com tranquilidade, os manifestantes foram acompanhados pela polícia argentina ao longo do percurso. A polícia não havia sido informada do protesto e o trajeto foi negociado durante a concentração. Antes de o grupo fechar a avenida, ainda no Obelisco, alguns militantes do PSTU foram vaiados e pressionados a abaixar as bandeiras. Houve momentos de tensão, quando cerca de 40 pessoas se aproximaram aos gritos de “sem bandeira.”
Neste momento, Cleyton Yamamoto, que mora em Buenos Aires há um ano e meio, onde estuda medicina, mediou um acordo entre os militantes do PSTU e alguns manifestantes. “É curioso que em um movimento que pede mais democracia as pessoas impeçam outras de levantar suas bandeiras”, afirmou Cleyton a Opera Mundi. “Ninguém é apolítico. Todos devemos ter direito a vestir a camisa que queremos ou levantar a bandeira que queremos.”
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Manifestantes seguram cartaz com diversas demandas além da redução da tarifa do transporte público
A heterogeneidade foi a marca da manifestação em Buenos Aires. Assim como as demandas eram diversas – redução da tarifa do transporte público, fim da corrupção, impeachment da presidente Dilma, não à PEC 37 – os cantos ouvidos no centro de Buenos Aires também demonstraram falta de coesão. Os manifestantes alternavam “criar, criar/poder popular” com o hino brasileiro, “ada, ada, ada/ acabou a palhaçada” e até ensaiaram um “ei, reaça, vaza dessa marcha.”
A tradutora Elisa Rosas, que militou no MPL de Brasília entre 2005 e 2009, quando se mudou para Buenos Aires, se impressionou com a quantidade de pessoas que se juntaram e conseguiram fechar a principal avenida da capital argentina. “O que vemos aqui é o que se vê no Brasil, que não é uma marcha unificada, mas o fato de a brutalidade da PM e o uso desproporcional da força terem chamado atenção para os protestos mostram que as pessoas estão observando questões relacionadas a direitos humanos, lá e aqui”, avalia.