Milhares de agricultores sul-africanos estão em greve há mais de 10 dias na região vinícola do Cabo Ocidental em luta pelo aumento do salário. Os trabalhadores exigem um incremento de pelo menos 1,6 mil rands (370 reais). A polícia iniciou confronto com os manifestantes, matando uma pessoa.
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Trabalhadores rurais sul-africanos se reúnem em assembleia popular após protestos por aumento de salário
Com uma renda atual diária de 69 rands (R$ 15,85), trabalhores rurais da África do Sul esperam receber pelo menos 150 rands (R$ 34,50) por cada jornada nas fazendas. Com as negociações entre associações trabalhistas e o Departamento de Agricultura do Cabo Ocidental estagnadas desde o ano passado, milhares optaram por recorrer aos protestos.
A movimentação começou em dezembro do ano passado na província de Rawsonville, mas tomou proporções maiores na última quarta-feira (16/01), quando cerca de 100 pessoas bloquearam a estrada N1, a principal da região, a 100 quilômetros da Cidade do Cabo, afirmando que só sairiam depois que o piso da categoria fosse reajustado.
No mesmo dia, um homem morreu após ser atingido por policiais com balas de borracha na cidade De Doorns. A vítima seria Letsekaang Thokoene, um jovem de 23 anos que trabalhava no comércio local e que não fazia parte da manifestação. A Polícia do Cabo Ocidental afirmou que Thokoene morreu no hospital e que o Departamento Policial de Investigação Independente do país deve analisar o crime dentro dos próximos dias.
Apesar disso, o ministro da agricultura do Cabo Ocidental, Gerrit van Rensburg, comunicou nesta sexta-feira que grande parte dos grevistas já teria voltado ao trabalho. “Entendemos que a maioria dos agricultores voltou à rotina normal, com exceção de uma passeata ocasional”. A “passeata ocasional” citada pelo ministro ocorreu ontem na cidade De Doorns e envolveu mais de cinco mil pessoas. O movimento foi realizado mesmo depois de o Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos (COSATU, na sigla em inglês) ter publicado um comunicado oficial pedindo que os agricultores voltassem ao trabalho.
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A Aliança dos Trabalhadores do Ramo Alimentício (Fawu, na sigla em inglês), afirmou ontem que os protestos não podem ser “ligados e desligados como uma torneira”. “Nós recebemos uma ligação da COSATU pedindo a suspensão da greve, mas nós acreditamos que os agricultores precisam ser consultados antes e não tratados como uma torneira”, afirmou o secretário-geral da Fawu, Katishi Masemola.
Nosey Pietrese, secretário-geral da Bawsi – União de Agricultores da África do Sul, também comunicou que a greve deve continuar apesar da intervenção da COSATU. Na tarde de ontem, Pietrese liderou uma a multidão que protestava na principal rodovia da região. “Nós iremos de fazenda em fazenda para negociar nossos salários”, teria dito.
A tropa de choque sul-africana vem usando veículos blindados e balas de borracha, para “levar os manifestantes para o acostamento da rodovia”.
Audiências públicas
Agricultores foram chamados para audiências públicas ao redor do Cabo Ocidental para falar sobre suas condições de trabalho. A iniciativa foi proposta por organizações governamentais em uma tentativa de evitar que a manifestação tome proporções ainda maiores.
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Crianças fogem de bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela polícia durante protestos em Cabo Ocidental
Na cidade De Doorns, as reuniões com trabalhadores e governo começaram com reclamações. Agricultores presentes no local ficaram indignados pelo fato de a reunião ter sido conduzida em inglês, quando grande parte dos trabalhadores rurais da região só entende Xhosa ou Afrikaans.
Diretor do departamento de Relações Trabalhistas, Thembinkosi Mkalipi, afirmou que a Comissão de Condições Econômicas sul-africana (ECC, na sigla em inglês) deve decidir na próxima quinta-feira se irá aumentar o piso salarial de diversas categorias, entre elas a dos agricultores. A decisão será feita após as audiências públicas e os novos salários poderão ser negociados a partir de março.
Economistas locais afirmam que a África do Sul precisaria crescer pelo menos 7% para melhorar as condições trabalhistas, devido à alta taxa de desemprego, principalmente entre jovens. O Banco Nacional ABASA projetou um crescimento de no máximo 2,8% para o país em 2013. As estatísticas oficiais de 2012 ainda não foram divulgadas, mas no ano de 2011 o progresso foi de 3.1%.
A maior greve trabalhista em terras sul-africanas aconteceu no ano passado, quando 34 mineiros foram mortos durante protesto nas minas de Marikana.
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