A equipe do maior jornal de Ciudad Juárez, Diário de Juárez, publicou um editorial nesse domingo (19/9) em tom de desabafo. Dias após um ataque do crime organizado vitimar um fotógrafo e deixar outro repórter gravemente ferido, o jornal enviou uma mensagem aos cartéis da droga, pedindo “trégua” na violência e que expliquem o querem da imprensa local.
Juárez, no estado mexicano de Chihuahua, na fronteira com El Paso, Texas, é uma das cidades mais violentas do mundo. Dados oficiais estimam que duas mil pessoas foram assassinadas esse ano – sendo 11 jornalistas. “O que querem de nós?”, pergunta diretamente aos traficantes o editorial.
“Não queremos mais mortos. Não queremos mais feridos, nem tampouco intimidações. É impossível exercer nossa função nestas condições. Indiquem-nos, portanto, o que esperam de nós como meio”, afirma o texto.
No México, mais de 60 jornalistas foram assassinados e 11 desapareceram durante a última década, de acordo com a Comissão Nacional de Direitos Humanos. Na semana passada, o Instituto Internacional de Imprensa, com sede na Áustria, informou que, com os assassinatos de 2010, o México se tornou o país mais perigoso do mundo para os jornalistas.
Na última quinta-feira (16/9), pistoleiros atiraram com fuzis contra o veículo do fotógrafo Luis Carlos Santiago, que morreu na hora. O ataque também feriu um jornalista que estava com ele, mas que sobreviveu. Ambos trabalhavam no Diário de Juárez. Em novembro de 2008, outro funcionário do mesmo veículo, o repórter Armando Rodríguez, foi assassinado quando saía de casa, na frente da família.
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O editor do Diário de Juárez Osvaldo Rodríguez disse em entrevista concedida à BBC Latina que toda a equipe do jornal está buscando um “acordo de paz” porque “nenhuma notícia vale a vida de um repórter”. Segundo ele, o jornal tem sido o mais afetado. “Não estamos pedindo proteção ou questionando nossa liberdade editorial, mas se nos disserem por que matam, então seremos capazes de decidir melhor”, afirmou.
Governo
No editorial, o jornal critica o papel do governo do presidente mexicano, Felipe Calderón, e o acusam de falhar na proteção aos moradores de Juarez. “Vocês são, neste momento, as autoridades de fato nesta cidade, porque as regras instituídas legalmente não têm feito nada para impedir que nossos companheiros sigam morrendo, apesar de reiteradamente termos exigido isso”, afirma.
Desde dezembro de 2006, quando assumiu a presidência, Calderón mobilizou as forças armadas para combater os crimes ligados ao tráfico. Devido ao grande número de vítimas desde então – mais de 28 mil mortos em todo o país – sua estratégia tem sido cada vez mais criticada.
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