Mais
de 89 milhões de mexicanos irão às urnas neste domingo (01/07) para escolher os
representantes que irão ocupar cargos na Câmara, Senado, governos de Estados e
presidência. O candidato de esquerda Andrés Manuel López Obrador, conhecido
pela sigla AMLO, lidera as intenções de voto para suceder Enrique Peña Nieto ao
mais alto posto do país.
De acordo com uma pesquisa publicada no dia 27 de junho pelo jornal Reforma,
AMLO, candidato pelo Movimento Regeneração Nacional (Morena) possui 51% das
intenções de voto. Em segundo lugar está Ricardo Anaya, que disputa por uma
coalizão formada pelo Partido de Ação Nacional (PAN) e pelo Partido da
Revolução Democrática (PRD), registrando 27% das intenções.
O ex-ministro da Fazenda José Antonio Meade, que concorre pelo governista
Partido Revolucionário Institucional (PRI), aparece na pesquisa em terceiro
lugar, com 19% das intenções.
As eleições presidenciais do México não possuem segundo turno, desta forma o
novo presidente deverá ser conhecido até a noite do dia 2, segundo o Instituto
Nacional Eleitoral (INE), que também informou que a apuração será
temporariamente pausada durante esta madrugada.
Além de registrar um número recorde de eleitores, está já pode ser considerada a maior eleição realizada no país: mais de 3.400 cargos serão preenchidos ao fim do processo.
Estas eleições também são consideradas as mais violentas da história do México. Segundo dados da consultoria Etellekt, ao menos 132 pessoas com envolvimento político foram assassinadas entre setembro de 2017 e a última segunda-feira (25/06). Entre os mortos, 48 eram candidatos e os demais possuíam envolvimento direto com partidos políticos.
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Andrés Manuel López Obrador, conhecido pela sigla AMLO, lidera as intenções de voto para suceder Enrique Peña Nieto (Foto: Wikicommons)
Andrés Manuel López Obrador
Caso os dados se confirmem, o ex-prefeito da Cidade do México, que disputa a
presidência pela terceira vez, poderá colocar fim a um longo período de
hegemonia do PRI, que governou o país de modo ininterrupto de 1929 a 2000, ano
em que o PAN, também de direita, assumiu os dois mandatos seguintes (de 2000 a
2006, com Vicente Fox, e de 2006 a 2012, com Felipe Calderón). Com a vitória
nas eleições de 2012, o PRI voltou ao poder por meio da figura de Peña Nieto.
Esta não é, no entanto, a primeira vez que AMLO aparece no
topo das pesquisas. Nas eleições de 2006, em que concorreu pela coalizão
Aliança Para o Bem de Todos (integrada pelos partidos PRD, PT e Convergência),
o candidato perdeu para Felipe Calderón por uma diferença de apenas 0,58% dos
votos em um pleito recheado de acusações de fraude.
Semanas antes das eleições, jornalistas revelaram que o INE submeteu a gestão
das bases de dados eleitorais a uma empresa que pertencia ao cunhado de
Calderón por meio de contratos assinados entre 2002 e 2005 e que chegaram a um
valor próximo aos US$ 150 milhões.
Durante uma entrevista, um dos representantes do PRD afirmou que, no 11º
distrito, localizado no estado de Nuevo León, um dos locais de votação
apresentou 961 votos. “Tudo parece normal, exceto que a lei prevê que não pode
haver mais de 760 cédulas por local de votação”, afirmou.
Cerca de 1,5 milhão de cédulas a mais foram registradas ao final do processo
eleitoral. Ainda assim o INE decidiu considerar o pleito como sendo válido,
afirmando que, caso fosse verdade “que algumas urnas foram abertas, isso não indica
necessariamente uma manipulação imprópria”. O documentário Fraude – 2006,
produzido por Luiz Mandoki, narra alguns desses acontecimentos.
Já durante as eleições de 2012, as tentativas de frear uma possível vitória de
AMLO ficaram a cargo da imprensa, que dirigiu sua cobertura ou para associá-lo
a imagem de um líder antidemocrático, ou para enaltecer Peña Nieto. Agora, em
2018, AMLO concorre pelo Morena – partido que passou a integrar em 2012 – com
um discurso centrado principalmente no combate à corrupção e ao que chama de
“máfia do poder”.
Caso vença, AMLO terá o desafio de encarar as políticas cada vez mais hostis do
presidente norte-americano, Donald Trump, com relação ao país vizinho, além do
crime organizado e o narcotráfico, problemas cada vez mais presentes no país.
Ricardo Anaya
O principal concorrente de AMLO a assumir a presidência do México é o ex-líder
da Câmara de Deputados (2013-2014) Ricardo Anaya, do PAN, apelidado de “jovem
maravilha” por ser um político muito mais novo que os demais (tem 39 anos) e
por sua rápida ascensão política.
Anaya foi um dos responsáveis por negociar o apoio do PRD
para as eleições estaduais de 2016, conseguindo levar a coalizão a ganhar sete
de 12 governos do PRI. Seu fortalecimento político gerou conflitos internos no
partido de Peña Nieto e em seu próprio partido.
O ex-presidente Felipe Calderón (eleito pelo PAN) e sua esposa Margarita
Zavala, que inicialmente se candidatou à presidência de forma independente, mas
decidiu se retirar do pleito, criticaram Anaya publicamente durante algumas
ocasiões, acusando o candidato de ser um político inescrupuloso e desleal.
Anaya atualmente enfrenta uma acusação aberta pelo Ministério Público que o
liga a um esquema de operação imobiliária feita a partir de recursos ilícitos.
Segundo ele, a investigação se trata de uma perseguição política.
José Antonio Meade
Representante do PRI, José Antonio Meade viu durante toda a sua campanha as
consequências do esgotamento político ocasionado após tanto tempo do partido no
poder.
Wikicommons
José Antonio Meade, representante do PRI
Candidato a herdeiro de uma gestão marcada por grandes reformas impopulares
(como a trabalhista e a fiscal) e que deixa somente 21% de aprovação, Meade foi
secretário de Energia durante o governo de Canderón e assumiu as pastas das
Relações Exteriores, Desenvolvimento Social e Fazenda durante o mandato de Peña
Nieto.
Meade tentou ter a imagem desvinculada a do PRI durante sua campanha, se
apresentando como um político honesto, sem partido e com um estilo de vida mais
adequado que seu adversário do PAN, pintado como um rico extravagante.
Além de ser considerado um político pouco carismático, Meade é alvo de críticas
de seus opositores, que o acusam de ter deixado de auditar um milionário desvio
de recursos na Secretaria de Desenvolvimento Social.