Líder do governo golpista de Honduras, Roberto Micheletti disse a deputados brasileiros no país na noite de quinta-feira (3) que não vai promover agressões à Embaixada do Brasil, como chegou a ameaçar. Além disso, prometeu religar o telefone fixo e liberar o livre trânsito dos diplomatas brasileiros.
Ele não quis responder, no entanto, se aceita um acordo pela volta do presidente deposto, Manuel Zelaya, ao poder, como exige o Brasil e a comunidade internacional. “Vamos deixar isso para as pessoas que vão negociar”, afirmou.
Depois de um dia cheio de compromissos, os parlamentares foram chamados para um encontro com Micheletti no Ministério das Relações Exteriores. Só quatro dos seis deputados que integram a comissão participaram da reunião e saíram satisfeitos.
O deputado Maurício Rands (PT-PE) negou que tenha descumprido uma orientação do governo brasileiro de não dialogar para impedir que se legitime o governo golpista. “Nós viemos dialogar. Deixamos claro que não concordamos com o governo de fato.”
O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) não foi ao encontro e disse que os colegas foram ingênuos. “Eles não deveriam ter feito isso.”
Antes da reunião, os parlamentares brasileiros ouviram o outro lado. Eles estiveram por três horas com Zelaya na Embaixada do Brasil, que continua cercada pelos militares. Segundo o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), Zelaya disse que aceita voltar com menos poderes, para permitir um acordo. “Ele aceita ser julgado e abrir mão de poderes. Só quer voltar ao cargo.”
De acordo com os deputados, o presidente deposto afirmou que a crise deve ser resolvida dentro de duas a quatro semanas, caso contrário os seus apoiadores não vão reconhecer as eleições de 29 de novembro. Ele também teria dito que não convocará a revolta de dentro da embaixada brasileira.
Durante o dia, não houve confronto entre os militares e os apoiadores de Zelaya. O chefe da resistência ao golpe afirmou que não basta o presidente deposto voltar ao poder para acabar com as manifestações. Ele disse que ainda quer uma assembleia constituinte, proposta descartada por Micheletti e que não agrada aos negociadores internacionais. “A restituição de Zelaya é só 50%.”
Marcha pela família
De acordo com o Estado de S. Paulo, no encontro com a Comunidade Brasileira de Residentes em Honduras, os deputados foram surpreendidos pela total condenação das “ações do Itamaraty, que marcaram um retrocesso nas relações diplomáticas” bilaterais, e do “fato de que o nosso governo não levou em consideração o nosso bem-estar”.
A insatisfação foi transcrita em um manifesto, entregue aos parlamentares e publicado no jornal El Heraldo, porta-voz da ditadura. O que mais impressionou os deputados, entretanto, foi a defesa dos brasileiros ao estado de sítio. Em especial, à presença ostensiva de tropas do Exército pelas ruas de Tegucigalpa. “Pareciam os membros da Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade falando”, arrematou Ivan Valente.
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