Um dia após o fim da Olimpíada de Londres, o ministro da Defesa do Reino Unido, Philip Hammond, decidiu ir na contramão de seu partido, o Conservador, e afirmou que depender do setor privado nem sempre é a solução para o governo. No maior fiasco dos Jogos, a empresa de segurança G4S cometeu erros graves e obrigou uma intervenção de última hora do Exército britânico, que convocou soldados lotados no Afeganistão para “tapar buracos” no sistema de proteção do megaevento.
“Eu vim do setor privado e com um preconceito de que precisamos sempre olhar como o setor privado faz as coisas para sabermos como fazê-las no governo”, disse o ministro, um ex-empresário do setor médico, ao jornal britânico The Independent. “Mas o caso da G4S e do socorro militar é bastante informativo”, sublinhou. Ao todo, mais de 12 mil soldados fizeram a segurança da Olimpíada – efetivo maior do que o lotado em Londres durante a Segunda Guerra Mundial.
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“A G4S estava literalmente contratando pessoas e esperava mandá-las para os Jogos três dias depois. Eles estavam tentando construir uma estrutura gerencial de uma noite para a outra e ficaram muito dependentes da força de trabalho – por exemplo, fazendo com que as pessoas marcassem suas jornadas pela internet”, afirmou Hammond.
“O Exército atacou o problema pelo outro extremo: ‘O que precisa ser feito? Ok, vamos fazer. Traremos muitos recursos a qualquer custo”, continuou o ministro britânico.
O escândalo da G4S estourou duas semanas antes da Olimpíada começar, administrando uma dose cavalar de pânico entre os britânicos, preocupados com o sucesso do megaevento. A empresa, a maior do mundo no setor, dona de um faturamento bilionário, tinha um contrato de 1 bilhão de reais com o governo do premiê conservador David Cameron, mas falhou em entregar o número de funcionários requisitados para fazer a segurança nos estádios.
O fiasco gerou uma crise no governo Cameron e pôs a ministra da Casa Civil, Theresa May, sob fogo cruzado. A oposição Trabalhista passou a criticá-la duramente por não ter resolvido o problema antes das vésperas dos Jogos Olímpicos. Em meio às trocas de acusações, atletas já desembarcavam no aeroporto de Heathrow para começar as disputas por medalha e onde deveria haver quatro funcionários da G4S estava apenas um.
Para corrigir a falha, o governo chamou às pressas 3,5 mil soldados extras. O ministro da Defesa admitiu que só o Exército cumpriria essa demanda de um dia para o outro por questões de “resiliência”.
“É isso que estou aprendendo – que aplicar o modelo enxuto e puramente comercial tem relevância em certas áreas do Ministério da Defesa, mas que você não pode olhar para um navio de guerra e dizer ‘Como posso empregar um modelo gerencial enxuto para isso? – porque isso é fazer coisas com diferentes níveis de resiliência que não são geralmente empregadas no setor privado”, afirmou Hammond.
Por outro lado, ele comemorou a “humanização do Exército”, que durante a Olimpíada teve contato direto com o público, ao contrário das imagens que vêm do Afeganistão. “Foi uma oportunidade fantástica”, disse.
A empresa de segurança G4S disse que não tentará ganhar o contrato da Copa do Mundo de 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016, ambos disputados no Brasil. A empresa perdeu cerca de 200 milhões de reais pelo fiasco no Reino Unido e outros 2 bilhões de reais em valor de mercado. O Exército britânico anunciou que levará dois anos para se “recuperar” da operação e voltar ao normal de suas atividades.