A promessa da Romênia de conceder passaportes para cidadãos da vizinha Moldávia, feita na semana passada, tem provocado filas e tumultos tanto nos consulados e embaixadas romenos quanto nos postos de fronteira, atraindo centenas de milhares de pessoas que, do dia para a noite, sonham em ganhar na prática cidadania da União Europeia mesmo sem a adesão de seu país.
Nesta terça-feira (20/7), centenas de pessoas se aglomeravam na porta da embaixada da Romênia em Chişinau, capital da Moldávia, à espera de um passaporte. Enquanto isso, a espera na fila de carros na passagem de fronteira de Calarasi, entre os dois países, chegava a duas horas, segundo o jornal Moldova Suverana.
EFE
Moldavos fazem fila em frente à embaixada romena em Chişinau: há 800 mil pedidos pendentes
Há uma semana, o presidente da Romênia, Traian Basescu, prometeu passaportes romenos para todos os cidadãos da Moldávia que se considerassem romenos. Como a Romênia é membro da UE desde 2007, o ato significa, na prática, garantir cidadania europeia, possibilidade de trabalho regularizado e livre-trânsito nos países do bloco.
No entanto, a Moldávia – uma antiga república soviética e um dos países mais pobres da Europa – não faz parte da UE e ainda nem está na lista de espera de adesão ao bloco.
De acordo com o jornal britânico Daily Telegraph, mais de 900 mil moldavos já solicitaram o passaporte romeno. Mas apenas 120 mil foram atendidos e já aguardam o término do processo. Para agilizar o processo, esta semana o Ministério do Exterior da Romênia abriu dois novos consulados nas cidades moldavas de Bălţi e Cahul. Ao mesmo tempo, Basescu garantiu que pelo menos 10 mil pedidos de cidadania serão concedidos mensalmente até que todas as solicitações sejam atendidas.
Representatividade
A medida é uma estratégia do governo romeno para aumentar a população do país, segundo informações da revista alemã Der Spiegel. Desta forma, a União Europeia contaria com mais mão-de-obra e a Romênia, com uma mais representatividade no bloco (por exemplo, no Parlamento Europeu), ao incorporar os cidadãos do país vizinho.
EFE
A fila na embaixada romena na Moldávia lotou o prédio e os arredores
O país dos Bálcãs vem tentando “somar habitantes” desde 2009, após a criação da Aliança para a Integração Europeia, que facilitou a naturalização de moldavos. Os dois países compartilham a mesma língua – embora, na Moldávia, o romeno seja chamado de “moldavo” e usasse o alfabeto cirílico até pouco tempo atrás – e uma história em comum. O atual território moldavo (antes conhecido como Bessarábia) era parte da Romênia desde o século XIX e foi incorporado à URSS no fim da Segunda Guerra Mundial, como punição pelo fato de Bucareste ter aderido ao Eixo.
“Nós somos um só povo e por isso os moldavos têm o direito de unidade e de um futuro juntos”, disse Basescu, segundo a Der Spiegel.
Para ele, que sonha com a reincorporação da Moldávia ao território romeno, ambos os países estão “intimamente ligados” historicamente. Depois da dissolução da União Soviética, em 1991, a Romênia foi o primeiro país a reconhecer a independência moldava.
Ilusão
Já o governo da Moldávia acredita que a concessão da cidadania romena possa impulsionar o mercado de trabalho da Romênia e aumentar o poder econômico dos moldavos, beneficiando ambas as partes.
EFE
A Moldávia é um dos países mais pobres da Europa, com PIB menor que o do Haiti
Na própria bancada governista do parlamento moldavo, nove dos 53 membros possuem passaporte romeno e outros 11 estão na fila aguardando a tramitação do processo. Para o prefeito de Chişinau, Dorin Chirtoaca, a ideia de que os dois países eram independentes um do outro era apenas “uma ilusão do poder soviético”.
No entanto, a maioria dos moldavos não é atraída pela perspectiva de reunificação com a Romênia. Depois da Bulgária, o vizinho maior é o segundo país mais pobre entre os membros da União Europeia. Segundo apuração da Der Spiegel, dois terços dos cidadãos da Moldávia que solicitaram a cidadania romena querem fazer parte da UE, enquanto apenas 2% dizem se identificar realmente com a etnia romena.
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