Pelo menos três pessoas foram mortas e mais de 80 ficaram feridas em ataques liderados por monges budistas cingaleses em duas cidades de predomínio muçulmano no Sri Lanka, durante a madrugada desta segunda-feira (16/06). Os cingaleses são o principal grupo étnico na ilha asiática e são predominantemente budistas – religião que representa cerca de 70% da população, ao passo que os muçulmanos formam apenas 8% do país.
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Uma das mesquitas muçulmanas mais antigas no centro de Colombo, capital do país insular a sudeste da Índia: islamismo é minoria
Hilmy Ahmed, porta-voz do Conselho Muçulmano do Sri Lanka, disse à Al Jazeera que a situação já estava “mais calma” na tarde desta segunda. Segundo Ahmed, pelo menos três mesquitas, nove lojas e 40 casas foram atacadas. Para conter a situação, 1.000 soldados do Exército do Sri Lanka foram chamados.
As ofensivas a propriedades muçulmanas e a mesquitas acontecerem nas cidades turísticas de Beruwala e Aluthgama, a 60 quilômetros da capital, Colombo. Os locais são conhecidos por serem frequentados por turistas estrangeiros que vêm conhecer as praias do país insular, localizado no sudoeste da Índia.
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A campanha de ódio, arquitetada por monges budistas extremistas contra a comunidade minoritária de muçulmanos ao longo dos anos, foi criticada pelo presidente Mahinda Rajapaksa. Em viagem a Bolívia, o líder tuitou: “como somos do Sri Lanka, não podemos esquecer que somos iguais e que não devíamos deixar que outras forças criem as diferenças entre nós”.
RT @rajapaksanamal: As Sri Lankans, let's not forget that we're all the same & we shouldn't let other forces create differences between us.
— Mahinda Rajapaksa (@PresRajapaksa) 15 junho 2014
Etnia e religião são temas caros no Sri Lanka. A ilha passou por uma guerra civil que durou 26 anos e custou a vida de pelo menos 100 mil pessoas. O conflito terminou há cerca de cinco anos, quando as tropas do governo cingalês esmagaram a oposição separatista, conhecida como Tigres Tâmeis. O grupo era composto pela minoria de etnia tâmil, que alegava sofrer discriminação da maioria cingalesa e exigia a formação de um Estado independente na ilha, denominado Tamil Eelam.
No fim de março, o Conselho de Direitos Humanos da ONU autorizou uma investigação criminal composta por 47 países para analisar as atrocidades cometidas durante a guerra civil no Sri Lanka (1983-2009). Para a organização, ambos os lados são responsáveis pelas atrocidades cometidas durante a guerra, mas culpam principalmente as tropas do governo pela realização de ataques contra áreas predominantemente civis no período mais grave do conflito – entre setembro de 2008 e maio de 2009. De acordo com o relatório das Nações Unidas, nesta fase final da guerra, estima-se que 40 mil pessoas tenham sido mortas – estatística contestada pelas autoridades cingalesas.