Conforme o Exército israelense se retira da Faixa Gaza, após um cessar-fogo unilateral anunciado na madrugada de domingo, os palestinos que conseguiram se esconder das bombas – seja em abrigos de organizações humanitárias, seja em localidades mais afastadas dos focos de conflito – agora retornam ao que sobrou de suas propriedades. Muitos só encontram escombros.
Segundo a Oficina de Estatística da ANP (Autoridade Nacional Palestina), 22 mil edifícios foram afetados pela artilharia de Israel, sendo que 4 mil não podem ser recuperados, pois foram completamente destruídos. Estima-se que será preciso mais de US$ 1,6 bilhão para a reconstrução de Gaza. A ONU (Organização das Nações Unidas) se prepara para enviar uma comitiva especial que avaliará o valor do investimento total.
Os mortos palestinos passam de 1.300, entre eles muitas crianças, de acordo com fontes médicas dos hospitais da região. No entanto, o cessar-fogo permitirá que prédios bombardeados sejam vasculhados e, possivelmente, mais corpos serão encontrados. Somente no primeiro dia de trégua, ao menos 95 cadáveres já foram retirados de um único edifício no norte da Faixa de Gaza.
Segundo o Exército de Israel, a maioria das vítimas era formada por membros do Hamas, que respondeu dizendo que somente 48 mortos integravam as fileiras do grupo. A ONU declarou que cerca de metade dos mortos é de civis. Do lado israelense, dez soldados e três civis perderam a vida.
O repórter Paul Wood, da BBC, é um dos poucos jornalistas que acompanham o retorno dos palestinos a suas casas. Ele conta que 24 horas após o cessar-fogo, algumas pessoas arriscaram sair às ruas. E que a frase mais ouvida é: “Muitos funerais acontecerão antes da reconstrução de Gaza”.
“Os israelenses usavam uma munição que percorria o solo e fazia barulhos como os de um terremoto. Era como estar num terremoto o tempo todo”, disse Jawwad Harb, empregado de uma organização voluntária e pai de seis filhos. Ele relatou que durante os bombardeios, agarrava-se firme aos filhos querendo passar tranqüilidade e dizia que o barulho passaria rápido.
Mas não passava. Sua filha Banyas, de 15 anos, dizia: “Esse passar rápido é para sempre!”. Um dia, após os estrondos, seu filho de seis anos, Ziad, perguntou se iriam morrer. “Meu coração se partiu naquele momento”, contou o pai.
“Não tenho mais casa, durmo num colchão na rua”
Mohammed Jeish, de 36 anos, descreveu como seu filho, de dois anos, começou a ter fortes dores de cabeça e a perder o apetite. “Quando fui ao médico, ele disse que meu filho tinha um medo psicológico permanente”. Outro palestino, de 30 anos, viu quando seu lar voou pelos ares: “Não tenho mais casa. Está destruída. Durmo em um colchão na rua”.
Abbas Khalawa declarou a um repórter do The New York Times: “Minha casa não existe mais. Minha familia não tem para onde ir”. Khalawa vive em Twan, uma das áreas mais devastadas, ao norte da cidade de Gaza.
Outro palestino está revoltado porque, segundo ele, o povo palestino foi mais prejudicado que o Hamas em si. “A guerra foi contra nós, o povo. O que aconteceu com o Hamas? Nada!”.
O The New York Times também publicou o depoimento de uma mulher que contou que, quando os soldados israelenses pediam à população civil que fugisse, as pessoas saíam correndo pelas ruas, mas alguns se perguntavam no caminho: “Onde iremos nos refugiar?”
Anistia Internacional encontra provas de fósforo branco
Uma delegação da Anistia Internacional afirma ter encontrado provas do uso “indiscriminado” de fósforo branco por parte do Exército israelense em Gaza, o que qualificou de “crime de guerra”. As provas encontradas pela organização incluem cunhas e restos de projéteis espalhados por prédios residenciais, muitos dos quais foram incendiados no domingo.
A AI afirma que um dos lugares mais afetados pelo uso da substância foi a escola que as Nações Unidas mantinham aberta em Gaza e foi atingida por três projéteis no último dia 15. Os projéteis explodiram perto de alguns caminhões carregados de combustível e causaram um incêndio de grandes proporções, que destruiu toneladas de ajuda humanitária, afirmou a organização.
No mesmo dia, outro projétil com fósforo branco atingiu um hospital de Gaza e causou um segundo incêndio, que obrigou à evacuação dos pacientes. “Esta arma foi usada em bairros residenciais densamente povoados de forma indiscriminada”, criticou Donatella Rovera, representante da AI em Israel e nos territórios palestinos ocupados.
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