Em uma aparição pública transmitida nesta terça-feira (22/03), em Trípoli, pela TV estatal líbia, o coronel Muamar Kadafi desafiou a coalizão internacional que tem realizado uma intervenção militar há quatro dias em seu país. “Seremos vencedores no final”, “não nos renderemos”, “iremos derrotá-los por quaisquer meios”, foram algumas das frases do líder líbio, que chamou os integrantes da coalizão de “um bando de fascistas”. Kadafi fez seu discurso para um grupo de dezenas de simpatizantes, na residência presidencial, atingida no último domingo por um ataque aéreo. Foi sua primeira aparição desde o início dos ataques estrangeiros no país. As informações são das agências Reuters, France Presse e Efe.
Também nesta terça, os países que lideram a coalizão (EUA, França e Reino Unido) afirmaram ter chegado a um acordo sobre a utilização das forças da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), após uma conversa por telefone entre seus respectivos líderes, os presidentes Barack Obama e Nicolas Sarkozy e o primeiro-ministro David Cameron, respectivamente. Entretanto, não especificaram qual seria esse papel, apenas classificando-o de “fundamental” na estrutura de comando das operações. Por sua vez, o secretário-geral da Aliança, Anders Fogh Rasmussen, afirmou que a aliança finalizou seu plano de operação, mas não sabe ainda se o colocará em prática.
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Essa indefinição e a pouca clareza nas declarações dos membros políticos da coalizão ocorre porque há uma recusa de parte dos membros da OTAN, em especial do presidente francês Nicolas Sarkozy, de que a aliança lidere as operações.
Sarkozy afirmou em uma entrevista que isso poderia transmitir uma mensagem negativas para as nações árabes. Em Paris, o primeiro-ministro François Fillon afirmou que seu país já realizava incursões aéreas de reconhecimento na Líbia desde 4 de março.
Durante entrevista coletiva realizada em sua viagem a El Salvador, Barack Obama afirmou que, nos próximos dias, seu país poderá transferir o comando de operações a outros membros da coalizão. Segundo o mandatário norte-americano, a operação militar “permitiu salvar vidas e evitou uma catástrofe humanitária, já que as tropas de Kadafi ameaçavam não ter piedade se alcançassem a cidade de Benghazi (segunda cidade do país e principal base das tropas rebeldes)”.
Confrontos
Em Trípoli, voltou-se a ouvir explosões e disparos de artilharia anti-aérea. A televisão estatal líbia disse que várias localidades da capital sofreram ataques aéreos. Perto da cidade, segundo a rede Al Jazeera, um comandante das forças do regime, identificado como Hussein El Warfali foi encontrado morto.
A cidade de Misrata, no oeste do país, também foi alvo de bombardeios por tropas do governo.Os ataques teriam causado cerca de 40 mortes, entre elas quatro crianças que estavam em um carro. Um caça F-15 da Força Aérea dos EUA caiu durante a operação. O Pentágono alega falha técnica. Os pilotos ejetaram a tempo e teriam sido resgatados. Em Yefren, 130 quilômetros ao sul de Trípoli, os ataques de Kadafi causaram pelo menos nove mortes, segundo habitantes citados pela AFP.
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Em Zenten também houve confrontos mas, na madrugada, os rebeldes afirmam ter retomado o controle da cidade. A eletricidade foi cortada e muitas famílias tiveram de deixar as suas casas. Com a ajuda de um técnico militar que desertou, os rebeldes afirmam ter destruído sete carros de combate e lança-mísseis das forças de Kadafi, segundo a AFP.
Entenda o caso
Na semana passada, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) estipulou uma zona de exclusão aérea em todo o território líbio. A Resolução 1973 do órgão estabelece um cessar-fogo e, em um polêmico trecho, permite a utilização de “todos os meios necessários” para garantir a proteção da população civil. A organização entende que as tropas pró-Kadafi não se limitavam a atacar somente os insurgentes, mas também a população das cidades que demonstram apoio maciço a eles. A resolução, no entanto, não permite qualquer tipo de ocupação ou invasão de tropas terrestres, nem mesmo de deposição do regime de Kadafi.
Os países favoráveis à zona de exclusão alegaram que as tropas do governo violaram o cessar-fogo e, desde então, têm atacado as instalações militares líbias oficiais. A coalizão é liderada por França, Reino Unido e Estados Unidos, mas têm membros árabes, como Catar e Emirados árabes Unidos. O governo, por sua vez, nega a acusação, afirma que os ataques são ilegais e que provocaram a morte de vários civis. Também pede que uma equipe de observadores internacionais acompanhe a situação diretamente do país.
Até a decisão da resolução, a Líbia se encontrava em uma situação de guerra civil, com as tropas leais ao governo levando vantagem e reconquistando os territórios e cidades tomados pelas forças rebeldes. Os insurgentes, localizados em sua maioria na região leste do país, pedem o fim do atual regime, que já dura 41 anos.
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