José “Pepe” Mujica, ex-guerrilheiro e um dos pré-candidatos do partido governista Frente Ampla à presidência, lançou ontem (5) sua campanha para as eleições primárias com um comício no centro de Montevidéu.
Ele afirmou que só a política poderá salvar os países dos efeitos da crise financeira internacional, já que os “técnicos” são incapazes de fazê-lo.
A coalizão de esquerda uruguaia deverá definir em 28 de junho quem será o candidato. Mujica disputa o posto com o ex-ministro da Economia Danilo Astori, que conta com o apoio do presidente Tabaré Vázquez.
Há um mês, surgiu um terceiro candidato: Marcos Carámbula, atual prefeito de Canelones, cidade localizada no departamento homônimo, que tem quase meio milhão de habitantes – o Uruguai tem menos de 3,5 milhões.
A última pesquisa de intenção de voto, publicada hoje (6) pela consultoria Equipos Mori, indica que a Frente Ampla subiu dois pontos percentuais e conquista hoje 44% das intenções de voto. Dessa forma, supera toda a oposição junta: o Partido Nacional tem 34%, o Colorado, 7% e o Independente, 2%. Nas internas da coalização governante, Mujica aparece em primeiro lugar, com 53% das intenções de voto. Astori segue afastado (29%) e Carámbula tem 11%.
Ontem à noite, quando começou o comício, os partidários de Mujica entoaram o já clássico “Se siente, se siente, Pepe presidente”. O palanque exibia o slogan “Um presidente para todos”, em letras de diversos tamanhos e tipos, mas sempre no branco, vermelho e azul da Frente Ampla.
A imagem de Mujica que acompanhava a frase era muito similar ao pré-candidato sorridente que subiu ao palco, de camisa e gel no cabelo. Talvez tentando reverter o aspecto desalinhado que chegou a ser uma de suas características mais marcantes. E a atrapalhá-lo na trajetória política, como ele afirmou em entrevista recente ao Opera Mundi.
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Mujica iniciou o discurso sublinhando o valor da política em tempos de crise. Foi uma resposta aos comentários de analistas políticos, segundo os quais Astori, por ser economista e ter experiência no assunto, é mais capacitado que Mujica para lidar com os efeitos da crise.
“Nesta noite, saio em defesa da política, dos partidos políticos, das organizações sociais. Isso é bom numa época de homens ilustres, na qual só os meios de comunicação parecem importar”, disse. “Nós, que amamos a política, temos uma vocação doentia de carinho pelas pessoas”.
Ele atacou os analistas econômicos: “Ser comentarista de futebol e analista de economia é fácil, basta aprender um monte de palavras estranhas e pronto”.
Incoerência
Ele também criticou a oposição por propagar o alarme ante a crise econômica e, ao mesmo tempo, prometer reduzir impostos. “Sejamos coerentes: se estamos perdidos, você não promete baixar impostos, pois não vai cumprir, está mentindo”.
Afirmou ainda que, se contar com o apoio do Mercosul, estará disposto a suspender o segredo bancário que vigora no Uruguai, para permitir a investigação de operações fraudulentas e dar mais transparência ao sistema. No país, as instituições financeiras estão proibidas de divulgar dados das contas bancárias e dos clientes.
Mujica prometeu lutar para que, “em 20 ou 25 anos, não reste um só jovem sem educação superior” no país. “Sem a ajuda da inteligência, nós, que queremos defender o mundo humilde, perderemos”.
Astori rebate
Um dia depois do ato de Mujica, Astori rebateu suas declarações. Disse que o Uruguai tem “mecanismos de supervisão financeira muito rigorosos” e que o segredo bancário “pode ser revelado pela Justiça quando há fundamentos”.
Astori também respondeu à afirmação de Mujica de que é necessário se focar mais na política e menos na prática. “Não se pode contrapor a política ao conhecimento. Para se fazer política de verdade, é preciso ser capaz. Não somos tecnocratas, somos políticos. A tecnocracia é um invento daqueles que desejam mudar o mundo”, afirmou.
O candidato concluiu no que parecia uma mensagem direta a seu oponente. Astori disse que, para se fazer política “a sério”, há de haver “clareza e coerência” e que não se pode “mudar a opinião a todo tempo”.
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