Como qualquer outro negócio de alta rentabilidade e com extenso mercado à sua disposição, a indústria do narcotráfico no México ultrapassa fronteiras. A busca por mais pontos de venda e, sobretudo, rotas sem controle policial e espaços para armazenamento de mercadorias levaram os “capos” mexicanos a se espalhar pelas Américas Central e do Sul e pela Europa.
“A presença dos cartéis mexicanos nas Américas é verdadeiramente alarmante. Já houve avanços do crime organizado em países como a Nicarágua, onde tentaram assassinar a chefe de polícia local no início de 2008. Na Guatemala, houve três ou quatro chacinas, sendo que na última 15 pessoas foram mortas. O procurador-geral da Costa Rica os qualificou como uma ameaça regional e o presidente do Peru, Alan García, solicitou o apoio das autoridades mexicanas.
“O cerne da questão é que os cartéis são uma ameaça regional”, afirmou Samuel González , que foi fiscal anti-drogas da Procuradoria Geral da República (PGR) do México durante o mandato do ex-presidente Ernesto Zedillo (1994-2000).
De acordo com o ex-funcionário federal, há evidências da presença do crime organizado mexicano em pelo menos 36 países ao redor do mundo. Entre eles, destacam-se Guatemala, Honduras, Nicarágua, Peru, Colômbia, Brasil, Argentina, Chile, Venezuela, Espanha, Itália e países da África e do sudeste asiático.
A rota da efedrina argentina
Em 18 de julho de 2008, tornou-se público o maior escândalo envolvendo o narcotráfico na Argentina. Mexicanos estavam envolvidos.
As autoridades argentinas desmantelaram um laboratório clandestino onde se processava a efedrina, substância base para a produção das metanfetaminas e do ecstasy. Com isso, foi possível descobrir vínculos dos cartéis mexicanos, especialmente o de Sinaloa, com empresários argentinos.
A falta de controle sobre o manejo de produtos químicos na Argentina foi o que atraiu os “capos” mexicanos. O caso, denominado “La ruta de la efedrina” (A rota da efedrina), culminou com o assassinato de três empresários argentinos, o suicídio de outro e a detenção do suposto operador do cartel de Sinaloa na Argentina, Jesús Martínez Espinoza.
Matanças e execuções na Guatemala
Nos meses de março e dezembro de 2008, os departamentos (estados) guatemaltecos de Zacapa e Huehuetenango foram tingidos de vermelho. Uma série de execuções e enfrentamentos entre narcotraficantes mexicanos – presumidamente integrantes do cartel do Golfo – e guatemaltecos deixou pelo menos 45 mortos. A razão dos confrontos era o controle de territórios.
De acordo com as autoridades da Guatemala, os mexicanos se estabeleceram na América Central para controlar o envio e armazenamento dos carregamentos de droga no caminho rumo aos Estados Unidos.
A crise de violência desatada durante o ano passado no país centro-americano obrigou o presidente Álvaro Colom a mobilizar o Exército guatemalteco até a fronteira com o México e declarar os cartéis mexicanos como uma ameaça, com capacidade para se apoderar de território para dar continuidade às suas operações.
Forte fiscalização peruana
Dados do Ministério do Interior do Peru mostram que, nos últimos dois anos, 70 mexicanos foram presos no país por delitos relacionados ao narcotráfico. Para as autoridades peruanas, este é um dos indicadores que demonstram a forte presença dos cartéis mexicanos no país, especialmente o de Sinaloa.
O presidente Alan García pediu, no final de 2008, apoio do governo mexicano para controlar a presença do crime organizado em solo peruano. Em 15 de dezembro, o diretor de Migração do Ministério do Interior do Peru, Juan Alvarez, reconheceu que o governo de seu país monitora os cidadãos mexicanos que chegam aos aeroportos e pelas estradas, a fim de evitar a entrada de mais narcotraficantes.
Uma ameaça regional
A forte presença dos cartéis mexicanos em todo o continente fez com que vários governos de países da região, como Panamá, Colômbia e Guatemala, ficassem em alerta.
No dia 17 de janeiro, foi realizado, na cidade do Panamá, um encontro entre os presidentes dos três países, além do México. Os líderes buscaram firmar um acordo de luta comum contra o narcotráfico. Conforme reconheceu o mexicano Felipe Calderón, o crime organizado alcança níveis de organização superiores ao dos Estados onde atuam.
Leia a primeira reportagem sobre o tema.
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